sexta-feira, 23 de novembro de 2007

“O mercado de trabalho não prepara ninguém, essa função é da universidade”


A tranqüilidade parece ser sua marca registrada. Foi assim durante seu horário de trabalho em meio a visitas e telefonemas que o jornalista Jordevá Rosa, 16 anos de profissão recebeu a Agência de Notícias da UFG para uma entrevista no estúdio de gravação do Jornal do Meio Dia.
O diretor de jornalismo da TV Serra Dourada teve sua carreira projetada com a cobertura do seqüestro de Wellington Camargo, irmão da dupla Zezé de Camargo e Luciano no ano de 1999. Foi para a emissora que os seqüestradores enviaram a prova de que a vítima estaria viva após um longo período de silêncio. O corte da orelha entrou para a história dos crimes bárbaros cometidos no estado e marcou definitivamente a carreira de Jordevá.


Quem foram os idealizadores da TV Serra Dourada? Esses profissionais ainda trabalham na emissora?
Jordevá Rosa - Quem idealizou foi o jornalista Cassim Zaidem, o primeiro diretor de jornalismo da TV que hoje trabalha em outra emissora. A TV Serra Dourada surgiu no dia 14 de maio de 1989 quando o grupo Alves de Queiroz comprou a concessão do SBT que na época pertencia à TV Goyá. A emissora surgiu com a idéia de se criar um jornal alternativo mais popular e de alcance social. Nós temos funcionários com muitos anos de casa, eu, por exemplo, tenho 14 anos, a Luciana Finholdt tem 15. Houve uma substituição que é natural no processo de trabalho, mas temos muitos funcionários com um tempo razoável de casa.

Quais foram as estratégias que a emissora usou na época para alcançar a audiência?
Jordevá Rosa - Estabelecemos uma linha editorial diferente da que existia na principal concorrente, ou seja, abrimos espaço para a população. Na época, era uma coisa mais difícil, as emissoras eram mais fechadas, não tinham uma linha popular para que o povo pudesse mostrar seus problemas e fazer suas cobranças.

O jornalista Paulo Beringhs apresentou e também comandou o Jornal do Meio Dia desde o início da sua criação. Após a saída do apresentador houve alguma alteração no formato do jornal?
Jordevá Rosa - Sim, várias. O jornal tinha uma linha editorial muito política, muito forte, nós trabalhamos com a política hoje, mas trabalhamos principalmente a informação, o chamado jornalismo de prestação de serviços, mas, tudo o que se produz aqui dentro tem um significado para o dia a dia da população, principalmente para o público C que é aquele que tem mais carência de informação.

Qual a característica pessoal que o senhor imprimiu ao jornal trabalhando como diretor de jornalismo da emissora?
Jordevá Rosa - A principal característica é a simplicidade. Eu não sou de ficar dando dura, brigando, xingando em redação, pelo contrário eu fiz questão de não criar uma sala para diretor de jornalismo justamente para ficar no meio dos jornalistas, coisa que não existe em televisão aqui, todo mundo tem sala. Eu acompanho todos os passos, eu não sou daqueles que pegam o trabalho pronto e cobro, eu ajudo a resolver, faço isso tanto na edição quanto na apresentação. Eu sou no estúdio o mesmo que eu sou fora, não fico criando tipo, impostando voz e nem fazendo gritaria.

A cobertura que o senhor fez do seqüestro do Wellington Camargo deu uma projeção maior ao seu trabalho. Aquele foi o momento mais tenso da sua carreira?
Jordevá Rosa - Não, ele não foi tenso. Foi o momento mais importante porque nós conseguimos bater a concorrente em todos os aspectos. Aquele foi um dia especial, nós conseguimos chegar ao local onde o Wellington foi deixado, apenas nós e a Bandeirantes mostramos a chegada dele ao hospital, chegamos ao cativeiro primeiro, à noite enquanto o pessoal todo chegou somente no outro dia e conseguimos a primeira entrevista com ele graças a um rodinho. Nós colocamos um microfone e levamos o rodo até o segundo andar da clínica. Essa cena foi capa da Veja que mostrava um dos quatro momentos mais importantes do Programa do Gugu. O Wellington foi internado na Clínica Amparo e ninguém conseguia entrar lá. O pai dele aparecia na janela toda hora, dava tchau e voltava. Como chegar lá? Não tinha jeito de jogar o microfone. Foi então que pegamos dois rodos colocamos uma fita adesiva e pregamos o microfone. Isso tudo ao vivo no Programa do Gugu. Nós pedimos ao pai do Wellington que levasse o microfone até ele. E então ele entregou o microfone e nós fizemos a primeira entrevista ao vivo. Momentos tensos nós tivemos vários, a cobertura da rebelião do Cepaigo, por exemplo, em que nós passamos a noite inteira acordados em meio de tiroteios...Mas é isso, esse é o nosso dia a dia, eu gosto de fazer isso.

Como controlar a ansiedade e o nervosismo diante dessas situações?
Jordevá Rosa - Eu sempre fui muito calmo. Isso é uma característica pessoal, mas a segurança parte do volume de informação que você tem e da certeza que você consegue fazer esse serviço.

No cenário nacional, o SBT iniciou uma nova fase no telejornalismo com a criação do SBT Brasil, comandado pela jornalista Ana Paula Padrão. De que forma a criação desse jornal reflete no trabalho realizado pelas afiliadas? Houve alguma mudança com a criação do jornal?
Jordevá Rosa - Sim. Primeiro porque é muito importante você ter um jornalismo de rede, você trabalha a notícia em nível nacional, a repercussão dela é outra. Segundo, porque há uma cobrança maior e isso tem que existir mesmo porque as praças têm que ajudar a abastecer o SBT Brasil. Acima de tudo você trabalha com gente competente, que sabe o que está fazendo. Pra nós em todos os sentidos isso é muito importante. Claro que existe mais trabalho, mais pressão, mas é muito melhor, já cobrávamos isso há algum tempo.

Quais são os projetos da TV Serra Dourada a médio e longo prazo?
Jordevá Rosa - Estamos adquirindo nesse momento todo o equipamento digital e iremos substituir tudo até o mês de dezembro. Será um projeto enorme. Nós vamos ter um resultado melhor de imagem e de som com a garantia de qualidade que as fitas não oferecem. Esse vai ser um investimento muito caro para a televisão, mas será um caminho sem volta, não há como deixar de ser feito.

A UFG deu a formação acadêmica necessária para o senhor conseguir atuar bem como jornalista?
Jordevá Rosa - Eu tive problemas na UFG porque na época tínhamos apenas uma câmera VHS. Meu grande laboratório foi a Rádio Universitária que me deu base para a televisão. Quando eu estudei, eu fazia diagramação com uma régua de paica, hoje você faz no computador. Mudou tudo. É importante o estudante perceber que existem novas possibilidades no jornalismo. Hoje existe o jornalismo comunitário, o webjornalismo, a assessoria que é uma área que vêm se expandindo. As pessoas entenderam que é importante ter um jornalista do lado para cuidar da sua informação. Não é errado como muita gente pensa ter um jornalista fazendo assessoria, é importante ter.

Atualmente o estado de Goiás oferece boas perspectivas para o jornalista recém formado?
Jordevá Rosa - A perspectiva de mercado não é boa porque existem muitos cursos o que gera também um número grande de profissionais no mercado. A universidade tem uma responsabilidade muito grande que é colocar esse pessoal no mercado em condições de trabalhar. O processo de seleção será muito mais forte o que vai exigir um profissional melhor preparado. O mercado de trabalho não prepara ninguém, essa função é da universidade e se elas não fizerem isso, vão colocar esses estudantes numa situação bastante complicada na hora da disputa pelo mercado.


Isaura Carrijo

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