sexta-feira, 23 de novembro de 2007

“A adaptação do homem é mais lenta do que as mudanças tecnológicas”

Primeiro logotipo da TV Anhanguera


O jornalista mineiro José divino foi pioneiro do rádio em Minas Gerais e da Televisão em Goiás. Com mais de 50 anos de carreira, ele se tornou participante destacado da história da imprensa em Goiás. Durante a entrevista concedida ao jornal O Único, o jornalista revela suas lembranças do rádio da década de 50 e do advento de TV, quando inaugurou a programação jornalística da Televisão Anhanguera. Hoje José Divino é diretor executivo do telejornalismo da Organização Jaime Câmara e produz diariamente o programa a Hora do Ângelus.

Como você iniciou sua carreira na Organização Jaime Câmara?
José Divino: Eu vim de Minas Gerais, passei por São Paulo, Rio, Brasília. Já havia trabalhado em rádio, jornal e televisão. Não pensava em vir para Goiás, mas quando estava trabalhando em Brasília me chamaram para trabalhar aqui. Inauguramos a Televisão Anhanguera em caráter experimental, na década de 60.

Qual foi o primeiro programa que você participou na Televisão Anhanguera?
José Divino: O primeiro programa foi “O Popular no Canal 2”, no qual as informações eram transmitidas de forma ainda insipiente, com filme preto e branco e negativo.Fazia-se montagem de edição jornalística no olho. Comecei fazendo praticamente tudo sozinho, naquele trabalho dia e noite para notícias de cinco minutos. Depois vieram outros elementos e o departamento começou a ser montado. As informações eram captadas na redação do jornal O Popular. Não tinha tele-tipo, era rádio telegrafia, depois vieram as torres de microondas e as conexões por satélite. As mudanças são rápidas e a adaptação do homem às vezes é mais lenta do que as mudanças tecnológicas. Por isso o jornalista não pode ser só jornalista, uma área de especialização vai ajudar.

Já que você está falando em formação, como foi a sua?
José Divino: Na minha época não existiam faculdades de jornalismo. O registro era obtido no Ministério do Trabalho. Era necessário ter carteira assinada durante um determinado tempo. Eu obtive o registro antes de implantar o jornalismo em Goiás.

O nível dos profissionais melhorou com o surgimento dos cursos de Jornalismo?
José Divino: Vai melhorando o conhecimento teórico, o qual tem que ser acoplado com a prática. Da universidade sempre tem a oportunidade de sair o profissional perfeito, completo.

Entre todas as transformações, alguma coisa permanece?
José Divino: O pensamento não evoluiu, involuiu. Temos pessoas maravilhosas no mundo, mas tem muito canalha também. Então o jornalista tem que ter sensibilidade para acompanhar a vida das pessoas. A palavra tem peso, escrita ou falada. E como jornalista mexe com isso tem que prestar atenção. Dizer as coisas corretamente, ter ideal, ter responsabilidade, ser bom profissional, saber ver por trás dos interesses.

E durante a ditadura, como era?
José Divino: Quando se perde as liberdades, um sintoma que se vê é a insensibilidade. Os governos totalitários procuram controlar tudo da vida do cidadão através das instituições e da formação. Houve um controle absoluto, controle férreo nas redações dos jornais, rádio e televisão. Mas quando queríamos criticar subliminarmente, sabíamos o quê fazer. Muitos colegas foram presos, eu não cheguei a ser preso. Talvez porque o escândalo fosse muito grande, botar na cadeia alguém que estivesse tão visível.

E a Hora do Ângelus?
José Divino: Começou em 63, abriu a Televisão Anhanguera. Primeiro era o Selem Domingues que escrevia e lia o texto, depois eu comecei a fazer. Estive ausente durante um ano e o Wellington Oliveira continuou lendo o Ângelus com texto de Jávier Godinho, que está até hoje. Voltei e depois de três reassumi e continuo até hoje.


Você presenciou o incêndio da antiga sede da TV Anhanguera?
José Divino: O incêndio foi em 69 e aconteceu num domingo, por isso eu estava fora. É traumático, parece que consome uma parte da sua vida. Ficamos quase uma semana fora do ar, voltamos a trabalhar com equipamentos comprados. É claro que todo mundo fica abalado, mas aí entra a chama interior. Pensamentos é força e quando você transforma pensamento em palavra, ela tem peso e constrói coisas boas. Nós estamos com 41 anos no ar, com uma boa equipe e dando importância à informação correta. Essa tem que ter coerência; isenção total não existe, porque todos temos um padrão cultural e econômico. Mas te m que haver uma noção de realidade e fazer isso caminhar.


Kamyla Maia
Rosimeire Ramalho

Nenhum comentário: