sexta-feira, 23 de novembro de 2007

“Com o jornalismo você ganha tão pouco que tem que trabalhar em muitos lugares”

O jornalista Jávier Godinho, 67 anos, é um profissional de extensa participação na história da imprensa goiana. No meio há 46 anos, ele estabeleceu laços de amizade com Tasso Câmara e iniciou sua carreira na comunicação aos 17 anos. Graduado em Direito pela Escola de Direito de Goiás (único curso da época), Jávier Godinho relata seus conhecimentos, mostrando ser experiente na área jornalística. Nunca fez um curso em Comunicação Social, no entanto isso não foi empecilho para trabalhar em jornais como O Popular e na Rádio Brasil Central. Atualmente trabalha no Diário da Manhã, TV Anhangüera, Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e escreve artigos para pessoas como o governador de Goiás, Marconi Perillo.


Quando o senhor começou no meio jornalístico como era o formato dos jornais diários? Quais eram esses jornais?
Jávier Godinho – Só havia dois jornais diários em 1959 quando comecei como revisor do O Popular. Eles não tinham manchete, não tinham fotografia na primeira página, era clichê. Saia mais na primeira página aniversários. “Aniversaria hoje a inteligente criança fulano de tal, filho de fulano de tal”. Morte também saia. Os jornais eram atrasadíssimos. Os jornais eram O Popular e Folha de Goiaz. Folha de Goiaz era melhor que O Popular.

Naquela época havia muita influência do Estado e do chamado poder econômico nas notícias publicadas?
Javier Godinho – O Estado não influenciava tanto. O jornal hoje, como ontem e de qualquer época é a voz do dono. O Diário da Manhã e eu trabalho lá, é a voz do Batista Custódio. Então estou falando disso, de experiência própria, o jornal é a voz do dono. Todo jornal é o retrato do dono. O Globo é a voz do Roberto Marinho. Agora, jornal hoje custa caríssimo, televisão custa caríssimo, você não imagina quanto custa uma câmera de televisão. Isso tudo depende de muito dinheiro. Então quem paga isso para empresas é quem tem um certo controle, não é assim um controle direto, mas influencia muito. É um peso considerável para o poder econômico. Em compensação hoje acabou o mundo socialista, o mundo comunista. Na Rússia, o principal jornal “Estrela Vermelha” era conduzido pelo comitê soviético. Totalmente comunista. Em Cuba, todo jornal é Fidel Castro, o que ele pensa, senão fecha o jornal.

Então o senhor considera que a liberdade de imprensa é uma ilusão?
Javier Godinho – É uma ilusão sim esse negócio de liberdade de imprensa. Uma hora a gente aprende. Como uma época hoje o PT sumiu. Mas essa época eu era editor do jornal. O pessoal que saia do curso de jornalismo da Universidade Federal, todo mundo chegava achando que tava com o rei na barriga. Ia poder escrever o que quisesse. Isso eu vi demais em redação. Dono o manda embora. Se você quiser um jornal, você vai ter que fazer e depois quando fizer, vai ver que não era o que queria. Também vai depender de como você vai pagar. Então é um sistema universal. Não é só em Goiás.

Em que época o senhor considera que a imprensa goiana evoluiu e como foi essa evolução?
Javier Godinho – Quem mudou a face da imprensa goiana foi o Eliéser Pena nos anos 50. Eu já o encontrei no O Popular, ele foi quem fez a revolução aqui na imprensa e ele é vivo. Está aí, tem 80 e tantos anos, lúcido, colabora no Diário da Manhã, ele é ótimo. Ele que introduziu manchete, colocou fotografia e notícias de esporte na primeira página. Ele tinha vindo para trabalhar para a Folha de Goiaz, na hora ele acabou no O Popular. Revolucionou o jornal O popular. Uma vez ele provocou um escândalo enorme com um concurso de Miss. Tinha uma goiana, Jussara Marques, que ganhou o concurso de Miss Brasil. E ele colocou a fotografia dela de maiô na primeira página. Mas deu um escândalo que você nem imagina.

Nos anos 50 os jornais continham ideologias políticas oposicionistas em suas matérias?
Javier Godinho – Nessa época surgiram alguns jornais com peso aqui. Um era do PSB chamado “O Social”, mas só dava notícias boas do governo. E outro da oposição, só dava notícia ruim do governo. Esse se chamava “Jornal do Povo”. Inclusive às vezes circulavam diariamente. Teve um, era um jornal de oposição, chamava-se “O Momento” e esse brigou feio com o governo. Mataram um jornalista aqui em Goiás baleado.

Como isso aconteceu e qual foi a repercussão desse assassinato?
Javier Godinho – É a história do “O Momento”. Foi em 1953, eu não morava aqui ainda, vim em 54. O jornal deu a seguinte manchete: “O homem chegou e deu à luz”. Os exemplares do jornal saíram cedo e quando chegou meio-dia já tinha um repórter morto e dois diretores do jornal no hospital. A história é simples. Na época Celg e Saneago eram uma coisa só, chamava-se DAE, Departamento de Água e Energia. O diretor também era um só, chamava-se Pedro Arantes. A usina daqui, usina Jaó, era ainda muito atrasada e produzia pouca energia. Dessa forma, havia um racionamento de energia nos bairros de Goiânia, sendo que em um dia a energia era ligada para determinado bairro e no outro dia a energia desse mesmo bairro era cortada. Certa vez, o Pedro Arantes precisou tirar uma radiografia no IEPC, mas o bairro em que ele foi não havia energia. Portanto, não conseguiu tirar a radiografia. Sendo diretor do DAE ele pediu um telefone, ligou no DAE e mandou ligar a energia para aquele setor. Em pouco tempo tiraram a radiografia dele, mas logo depois cortaram novamente a energia. Moral da história: o pessoal do jornal ficou sabendo disso e o jornal circulou com a matéria “O homem chegou e deu à luz”. Chateado com a reportagem, o Pedro Arantes chamou alguns jagunços que trabalhavam na polícia e foi para a porta do Lord Hotel. Do hotel ia saindo o diretor do jornal, Antônio Carneiro Vaz, o irmão dele, João Carneiro Vaz e um repórter chamado Aroldo Gurgel. Quando eles saíram na porta atiraram neles. Mataram Aroldo Gurgel, deram oito tiros no Antônio Carneiro Vaz. Hoje ele é conselheiro do Conselho de Conta do município. O irmão dele, João Carneiro Vaz, levou dois tiros. Isso abalou muito a cidade e o Brasil inteiro.

Então Goiás ainda era tomado pelo coronelismo?
Javier Godinho – Sim, coronelismo. Durante 34 anos tomado pelo Ludoviquismo, Pedro Ludovico Teixeira. Dos anos 30 até 64.

E O Popular hoje ainda domina o mercado?
Javier Godinho – Domina por causa da televisão. Não tem força de comunicação maior que a televisão. Então você trabalha em conjunto e dá o apoio. Também é o jornal mais antigo, fundado em 1938. É um bom jornal. E ao contrário de antigamente, hoje não temos jornais de oposição.

O senhor trabalha em que área no Diário da Manhã? E na Fieg?
Javier Godinho – Eu faço reportagens, hoje mesmo estou terminando uma sobre o aniversário de Goiânia. Faço artigos duas, três vezes por semana. Na Fieg eu faço serviços de imprensa, criando artigos jornalísticos, por exemplo.

O senhor alcançou seu objetivo financeiro com o jornalismo?
Javier Godinho – È o seguinte: com jornalismo você ganha tão pouco que você tem que trabalhar em muitos lugares, esse é um conselho que sempre dou. Se você quiser ser livre, não trabalhe em um lugar só. O patrão vai achar que você depende dele. Fica horrível depender. Ele tem que ser seu amigo, seu parceiro, mas tem que ter um biombo separando. Ou seja, ele é o patrão e eu sou o empregado. Você tem que procurar ter muitos patrões. Eu atualmente trabalho na Fieg e no Senai fazendo artigos jornalísticos. Faço artigos para o presidente, artigos para jornais. Trabalho de manhã para o Diário da Manhã, trabalho para TV Anhangüera na “Hora do Angelus”. Eu trabalho nesse programa 2 dias, entrego todo dia 10 e gravo para o outro mês. Eu colaboro em várias publicações espíritas. Desde o começo do governo do Marconi Perillo, eu faço textos para ele e para sua esposa. Lógico que é remunerado. Então eu me viro. Eu já sou aposentado como jornalista. Não se iluda, eu trabalhei a vida inteira contribuindo com o máximo da previdência social. Aposentei com 10 salários mínimos, o que seriam hoje 3 mil e vai só emagrecendo. Eu trabalhei também na Rádio Brasil Central, Cerne. Então, eu tenho uma aposentadoria pequena lá.

O que o senhor acha sobre a opinião da juíza de São Paulo em acabar com o diploma de jornalismo?
Javier Godinho – Eu acho que ela está errada, porque aí é proibição. Escrever qualquer um pode, agora profissionalmente tem que ser um profissional. Senão nenhum curso precisará de diploma, porque qualquer um que pegar um livro e estudar Direito, por exemplo, poderá advogar.

O que poderia melhorar na imprensa goiana?
Javier Godinho – Eu acho que o que tem que melhorar na imprensa goiana tem que melhorar na imprensa do país, porque é igual. Pegue os jornais do Rio, os jornais de São Paulo. Aqui é uma continuação. Com a Internet você sabe de tudo, você não vê um jornal dando um furo no outro. Aquela concepção de aldeia global aconteceu. Você sabe de tragédias como a Tsunami. O mundo todo horrorizado. No final do século XIX uma enchente matou mais de um milhão de pessoas, mas não tem nenhuma emoção contar isso agora. Tem que ter notícia quente. Antigamente você só sabia o que acontecia dez anos depois.

E sobre o webjornalismo? O senhor acha que realmente funciona?
Javier Godinho – Eu acho que isso é só uma amostra, uma vitrine, uma exposição. Pode notar que os jornais que têm site, já aprenderam a cobrar para que tenhamos acesso às notícias do site. Por exemplo, se eu quiser saber uma notícia do O Globo pelo site, eu tenho que ser assinante, preciso de uma senha. Então é uma coisa bloqueada que não merece confiança. Outro exemplo é que se realizarmos pesquisa na Internet temos os risco de pegarmos coisas erradas. Muitas vezes eu pesquisei e fui confirmar se a informação batia com o livro original e não batia. É um negócio chutado. E quem fez aquilo ganhou o quê? Não merece credibilidade.

Um comentário:

Kaio P. de Souza disse...

Me formei no Ensino Médio em 2015 com 16 anos. Passei 2016 me dedicando no meu serviço, na época, era Aprendiz Legal numa concessionária automobilística, e por isso deixei meus estudos de lado. Final de 2016 meu contrato como Aprendiz acabou, e não fui contratado, decepção total. Hoje, me arrependo por não ter estudado em 2016, por isso, venho me dedicando nos estudos esse ano.

Desde o começo de 2017, me interessei na área de comunicações sociais, pois tenho 3 principais objetivos na vida: Ser bem sucedido, ser reconhecido como um profissional de sucesso e me tornar influência para outras pessoas. Jornalismo seria um meio para isso.

Porém, depois de muitas pesquisas sobre essa área (Praticamente 1 mês de pesquisas), acabei me decepcionando. Pelo o que eu entendi, iria trabalhar de mais e ganhar pouco, sem contar no tempo livre que praticamente eu não teria.

Depois de muitas pesquisas cheguei até essa matéria, cheguei a conclusão de que não é isso que quero para minha vida... Embora seja a área que mais tem a ver comigo, percebi que será difícil alcançar meus alvos em tão pouco tempo. E tempo, é algo que eu mais valorizo.

Hoje tenho 17 anos, estudo em casa com o auxílio do meu computador, e continuarei pesquisando até descobrir o que de fato será melhor para mim.

Se alguém sentir de me dar algum conselho, entre em contato comigo: Kaiokeek@gmail.com.

Parabéns pela matéria, de certa forma, sinto que me ajudou muito!