sexta-feira, 23 de novembro de 2007

“Grandes profissionais, grandes conflitos, grandes divergências. Isso faz a beleza da comunicação”


O jornalista Reynaldo Rocha já passou por vários veículos de comunicação, presenciou as transformações que o jornalismo sofreu ao longo das últimas décadas e continua atuando como comunicador com bastante entusiasmo.
Hoje, aos 61 anos, apresenta o programa Roda Viva Local, que vai ao ar às noites de terça-feira, pela TV Cultura, e representa um importante símbolo da história do jornalismo no estado de Goiás.
Nascido em Corumbá, mas morador de Goiânia desde os cinco anos de idade, Reynaldo Rocha, iniciou sua carreira aos 18 anos extinto jornal “Diário do Oeste” – época em que os cursos de comunicação ainda não existiam no estado. Anos depois, formou-se na primeira turma de jornalismo da Universidade Federal de Goiás. Apesar de ostentar com orgulho o diploma conquistado, Reinaldo não defende a obrigatoriedade da formação superior para o exercício do jornalismo. Esse e outros temas foram tratados na entrevista que o apresentador nos concedeu, terça-feira, 18, na Associação de Empresas do Mercado Imobiliário – Ademi, para a qual presta assessoria de imprensa.
Experiente – trabalhou na TV Anhanguera, foi correspondente de Goiás para a revista Veja e para o Jornal do Brasil e o Globo , trabalhou como editor chefe do jornal “O Popular” – Reynaldo falou sobre as mudanças ideológicas e econômicas pelas quais o jornalismo tem passado, o papel da televisão na sociedade, as conseqüências sofridas pela imprensa durante o período ditatorial, a consolidação da democracia no Brasil e em Goiás e sua vocação à comunicação.
Filho e irmão de jornalistas, Reynaldo, também formado em Direito, prestou vestibular para Engenharia, Arquitetura e Economia, mas garante: “ O jornalismo é minha paixão”.

Como o senhor começou sua carreira?
Reynaldo Rocha: Comecei com 18 anos em uma situação diferente da de hoje. Na época, não havia curso de comunicação em Goiás, portanto o mercado era completamente livre. Entrava – se em uma redação de jornal atrás de um emprego como outro qualquer. Eu havia perdido o emprego, precisava trabalhar... Havia oportunidade em um jornal, chamado "Diário do Oeste" e resolvi aproveitá – la. Um empresário tinha uma gráfica e decidiu montar o jornal. No começo, não havia regulamentação. Depois de um tempo, o Ministério do Trabalho quis regularizar a situação e emitiu licenças provisórias que, mais tarde, se tornaram permanentes. Em seguida, surgiu uma lei que foi a ultima oportunidade dada para a regulamentação da profissão de jornalista no Brasil.

Qual era a ideologia do jornal “Diário do Oeste”?
Reynaldo Rocha: Naquela época, o jornal era muito efervescente. Havia uma inclinação para a esquerda, tanto que ele acabou logo depois do Golpe Militar de 64. Devido à pressão violenta que sofreu, o veiculo foi vendido para um pessoal de Direito, que o manteve para que ficasse um registro histórico da resistência da imprensa de Goiás à mudança do regime. Era um período negro da ditadura brasileira e o jornal não sobreviveu por muito tempo. Quando começou a entrar em crise, eu já havia sido convidado para um outro jornal, o “Diário de Goiás”, que sobreviveu por uns três anos. Este jornal pertencia ao governo do Estado. O governo Mauro Borges tinha o Consórcio de Empresas de Rádio Difusora do Estado – Cerne. A idéia era fazer uma espécie de ponto de orientação dentro da estrutura do Estado – rádio, televisão, agência de propaganda e jornal.

Qual foi o posicionamento da imprensa goiana na época da ditadura militar?
Reynaldo Rocha: A imprensa foi muito rigorosa nos primeiros momentos. Os jornais conviveram com os chamados censores, que iam para as redações vigiar o que você estava elaborando, o que você ia editar e publicar no dia seguinte. No começo, houve muita resistência e confronto, mas, a partir do momento em que o regime foi ficando mais duro, não havia como resistir. Um jornal foi fechado e outros, como o “Correio da Manhã”, que era anti – militar, foram sucateados e asfixiados economicamente, não sobrevivendo. O “Correio da Manhã” teve uma oposição muito definida; fez história.

Há quem diga que vivemos em uma ditadura camuflada. O senhor acha que a democracia está bem estabelecida?
Reinaldo Rocha: Perfeitamente. As instituições estão fortes e a imprensa popular foi adquirida. As mazelas históricas do país estão sendo desvendadas e as pessoas estão sendo punidas. Quem imaginava que um dia Paulo Maluf iria ser preso? Foi detido porque houve cobertura de toda a imprensa. Só não concordo com os critérios que a Globo utiliza e com a exclusividade que ela tem. Isso é um atentado contra a liberdade, um péssimo exemplo e configura um outro tipo de ditadura: a ditadura do poder absoluto. A Globo acha que é maior do que qualquer coisa no País, maior até do que o próprio governo. Assim, ela faz e desfaz. Aquilo é um exemplo de empresa forte.

O senhor acredita que os veículos deixaram de lado a ideologia?
Reynaldo Rocha: Eu acho que os jornais eram muito mais ideologizados do que hoje. Agora, eles são muito mais empresariais. Atualmente, se os veículos não tiverem um equilíbrio financeiro, eles quebram e, às vezes, para se ter esse equilíbrio é preciso saber que os poderes constituintes são grandes. Eu não digo que os jornalistas deixaram de ter suas ideologias. Eles continuam sendo agentes ativos e têm muito mais percepção do que a média das pessoas. Mas, os jornais de antigamente eram muito mais forçados: uma capa tinha uma posição e brigava por ela. Mas na verdade a grande transformação foi de natureza tecnológica. Hoje, a sociedade tem acesso muito mais rápido à mensagem porque tem à disposição modernas tecnologias. Você nem precisa mais comprar jornal. Em casa, vendo televisão ou em frente ao computador, você sabe o que está se passando no mundo. A sociedade brasileira avançou muito e rompeu uma timidez histórica em função desse maior acesso via tecnologia. Mas, sempre há os grandes profissionais, os grandes conflitos, dúvidas e divergências; e isso faz a beleza da comunicação.

O senhor falou que houve um certo atraso do Brasil em relação a outros países no estabelecimento da imprensa. E em Goiás? A imprensa goiana sempre esteve atrasada em relação a de outros estados brasileiros?
Reynaldo Rocha: Sim. Como você concebe uma capital igual a Goiânia, com um milhão e 300 mil habitantes, dispor de apenas dois jornais diários? É um absurdo! Isso acontece devido à questão empresarial. Um jornal custa muito dinheiro, as edições são caras, os profissionais, nem tanto, porque recebem pouco. As pessoas dizem que houve uma regressão. No tempo em que comecei, chegamos a ter cinco diários. Acho que quanto mais veículos melhor é a imprensa, porque há uma concorrência mais saudável. Outra coisa interessante é que Goiás é uma referência de crescimento econômico no Brasil, porém as empresas têm uma visão atrasada, não anunciam. Os jornais são muito ligados ao governo e, por isso, têm dificuldade de se manter. O governo anuncia porque tem que comunicar o que faz à população. E a mídia, para agradar, dá a ele um anúncio que não precisava. Na época em que comecei as coisas eram mais modestas. Quem mantinha os jornais eram os comerciantes. Anunciavam farmacêuticos, donos de padarias...Você quase não via anúncios oficiais. Hoje,o público cresceu e houve uma evolução da televisão, que soma ao jornalismo entretenimento. Uma novela ou uma baixaria, como o programa do Ratinho, seduz as pessoas. Você senta na sala e os programas estão diante de você. Essa facilidade tem prejudicado a capacidade de questionamento da população brasileira.

Por que a televisão não prioriza programas que discutem temas polêmicos, informam e têm conteúdo, como o programa que o senhor apresenta?
Reynaldo Rocha: Vou dizer uma coisa bem emblemática. Logo que comecei o programa (Roda Viva Local), uma pessoa importantíssima da TV Anhanguera me disse: “Eu lamento não ter aqui um programa igual ao seu, porque qualidade é isso aí”. Ou seja, os profissionais não têm culpa, a questão é empresarial. Na TV Anhanguera, colocar uma hora para discutir esses assuntos é perda de dinheiro. E quem monta a grade de programação é a Rede Globo. Assim, as afiliadas têm que seguir a ditadura da Central Globo de Comercialização. Na TV Cultura nunca tive nenhum problema. Sempre trabalhei com muita seriedade e busco agregar valor naquilo que comunico. Não quero ditar regra a ninguém, nem fazer igual ao Lula dizendo que não há ninguém mais ético do que eu, pois há muita gente ética. Mas, eu sou ético e por isso é que tenho feito uma carreira de respeito. Essa é a lição que o jornalista tem que decorar.


Daniela Rodrigues
Larissa Bittar

Padre Jesus descreve sua trajetória profissional

Os alunos do segundo período de jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG) foram encarregados de retratar a história e o desenvolvimento da imprensa goiana. Através de relatos de profissionais, os estudantes procuraram aprofundar seus conhecimentos e compreender o processo pelo qual passou o jornalismo no estado.
Um dos entrevistados foi Padre Jesus Flores. O senhor de 72 anos de idade é um dos ícones da história goiana, atua ativamente na imprensa e tem formação universitária em filosofia e teologia. Ele afirmou que apesar de não ser graduado em jornalismo, os cursos que estudou eram voltados para o ato de comunicar por isso não teve maiores dificuldades. O padre alegou que já participava de alguns programas religiosos em rádios desde 1961, mas que em 1984 ele percebeu que a melhor maneira para veicular a mensagem religiosa era se inserir no jornalismo e fazer uma leitura cristã dos acontecimentos, tentando entender o mundo de um ponto de vista evangélico.
O padre esclareceu que os jornalistas devem ser os olhos, os ouvidos e o coração daquilo que vive e que sente a comunidade, seu papel seria assim traduzir os fatos para que todos possam compreender. Ele constatou que a mídia goiana é provinciana, não há verdadeira autonomia em nenhum jornal da região e que os meios de comunicação são extremamente ligados ao poder dominante. Concluiu que a mídia nacional em geral é bastante preconceituosa com as minorias e também com o PT e o Lula,por este não ter formação escolar e ser um trabalhador.
Padre Jesus afirmou que não acredita na objetividade e imparcialidade no jornalismo e esclareceu que é impossível não haver subjetividade no que se escreve. Ele disse que compreende as limitações dos profissionais na medida em que estes são subalternos e portanto sofrem tantas vezes com censuras e falta de liberdade. No entanto, ele condena os indivíduos que são limitados pela autocrítica quando ela é atrelada a compromissos políticos, econômicos ou sociais.


Padre Jesus narra lembrança profissional e aconselha os futuros jornalistas


Padre Jesus revelou que a sua melhor lembrança profissional vem do tempo em que já trabalhava na rádio Difusora. A emissora dava total apoio aos movimentos populares e ele julga inesquecível o trabalho que fez em relação aos posseiros. O padre contou que juntamente com sua equipe, defendeu o direito dos posseiros em Goiânia e impediu que esses sofressem qualquer tipo de violência.
O comunicador concluiu a entrevista dizendo que para ser um jornalista competente deve-se estudar muito, viver no meio do povo e não ser “porta-voz” de ninguém. O importante seria assim trabalhar para ter espírito crítico e ser capaz de analisar a realidade e transmitir uma visão sadia e ética para a população.
Gustavo Rocha
Vanessa de Souza

Revista Oeste, um marco cultural


No dia cinco de julho de 1942, data do Batismo Cultural de Goiânia, foi fundada a Revista Oeste, um veículo de propaganda de Pedro Ludovico Teixeira, primeiro prefeito de Goiânia. Embora de clara orientação estadonovista, ela contribuiu de forma grande e positiva para o nascimento de nossa literatura, até então presa ao romantismo.
De acordo com um decreto de três de fevereiro de 1943, o governo tornou a revista um órgão oficial e instituiu-a com finalidades de cunho exclusivamente cultural, como divulgação de tendências literárias e sociológicas da região, instituir concursos literários, ajudar na influência de pensamento positivo frente ao governo estadual e nacional, estimular escritores goianos, esse último tornou-se marca principal da revista Oeste. Escritores como Bernardo Elis, Domingos Félix de Sousa, Gerson de Castro Costa, Hugo de Carvalho Ramos, entre outros, tiveram suas obras literárias divulgadas pela revista.
A Revista Oeste tomou reconhecimento nacional, o então Diretor Geral do Departamento Nacional de Educação, Abgar Renault, disse na época que a revista “rivaliza com o que de melhor no gênero é publicado nos mais adiantados centros culturais de todo o país”. Apesar de ser uma das melhores revistas de ênfase cultural no país, ela foi criticada justamente por assumir essa postura. O crítico e poeta, Antônio Ramos Jubé, em entrevista ao Jornal Opção afirma que: “A revista Oeste não teve influência nenhuma. Em toda província, havendo uma revista, o pessoal só pensa em escrever conto ou fazer poesia, mais nada. Não há debate intelectual (...) O Popular dava um espaço mais constante para a literatura”.
Sendo a favor ou não à postura ideológica da Revista Oeste, é impossível negar que ela foi importante no processo da transferência da capital para Goiânia. Seus diretores, principalmente Gerson de Castro Costa e Paulo Figueiredo, que foram os primeiros, colocaram a nova capital no eixo cultural brasileiro e em suas páginas os melhores nomes da literatura e do jornalismo goiano até o ano de 1944, data de sua última publicação.



Adriano Muhammad
Vinícius Batista

Batista Custódio e o Jornalismo goiano


Jornalista pioneiro em Goiás, editor chefe do Diário da manhã, Batista Custódio começou a escrever na sua juventude em pequenos jornais da capital até fundar o seu primeiro jornal, Cinco de Março. “Numa manhã de sábado, eu me lembro, cheguei na praça do Bandeirante, lá pelas seis horas e estava aquele alvoroço. O pessoal, a mando do presidente de hoje da Celg, tinha assassinado o diretor do jornal O Momento. Eu fiquei muito impressionado com aquilo e desde aquele assassinado criou-se um medo muito grande. Resolvi fundar o Cinco de Março, um jornal do estudante”, explicou o jornalista. O jornal cresceu e chegava a vender até 65 mil exemplares por semana. “O Diário da Manhã e O Popular hoje, por exemplo, não vendem o que ele vendia”, completou Batista.
Durante a ditadura, foi alvo de repressões, chegando a passar até oito meses na prisão. “Denunciei uma corrupção do governo e uma grilagem de um grupo norte-americano no Norte. O governo se aliou a esse pessoal e eu fui condenado sem direito à defesa”, declarou o editor. Ainda assim, continuou escrevendo suas matérias.
Em 1980, fundou o jornal Diário da Manhã e desativou o Cinco de Março. “Por que eu fundei o Diário da Manhã? Eu sempre entendi que não temos imprensa nacional, nós temos imprensa regional no Rio e em São Paulo, embutindo o resto do país, interesseiros. Então, tentei fundar o primeiro jornal diário que transformasse Goiás em um centro emissor de notícia ao invés de receptor”, relatou. O jornal contava com uma equipe com nomes como Mino Carta, fundador da revista Veja, Cláudio Abrão e Marco Antônio Coelho.
Após 25 anos à frente do Diário da Manhã, que se tornou um dos principais jornais goianos, livre da censura e repressão militar, Batista é categórico ao avaliar a liberdade de imprensa, “a liberdade que existe hoje é uma forma de dissimular o autoritarismo. Quem disser que existe atualmente jornal independente está mentindo”. Disse também que procura estar sempre à frente do seu tempo e entende que “jornalista não pode ter nem ideologia, nem teologia, nenhuma forma de engajamento a não ser a ideologia à liberdade”.
Chico Ciccone
Elisa Caetano

Matutina Meiapontense

O Matutina Meiapontense foi o primeiro jornal de Goiás, editado pela primeira vez em 5 de março de 1830, no distrito de Meia Ponte (atualmente, Pirenópolis). A história do Matutina Meiapontense reflete a luta dos jornais brasileiros oposicionistas à dominação portuguesa. Em 1829, o Presidente da Província de Goiás, Marechal Miguel Lino de Morais encaminhou um ofício ao império solicitando a instalação de uma tipografia em Goiás. O império não autorizou o feito, de modo que no mesmo ano, o Comendador Joaquim Alves de Oliveira, comandante geral do Distrito de Meia Ponte, um dos homens mais ricos do seu tempo, em desagravo à retaliação do Imperador, comprou, com recursos próprios, uma tipografia no Rio de Janeiro, que foi instalada em Meia Ponte. No ano seguinte, o primeiro número do jornal Matutina Meiapontense trazia o seguinte texto assinado por Miguel Lino de Morais:
A liberdade da imprensa não é considerada como sustentáculo dos governos bem constituídos, senão por que oferece meios para a instrução geral, porquanto é esta que estabelece uma base à segurança e obrigações do cidadão; é ela que faz amar a justiça, respeitar as autoridades e obedecer às leis: um povo instruído, vendo a necessidade da Nação abraça e sofre, sem murmurar, os impostos; considera o governo , como o seu maior bem e aborrece o homem sadicioso e turbulento, como o maior inimigo da sociedade: não entra, pois, em dúvida que a instrução seja a melhor e a maior garantia dos governos constitucionais (...) Talvez pareça mais que audácia o pretender eu oferecer aos meus patrícios goianos um periódico em um Arraial, se quem que o mais populoso da Provincial, falto todavia de comunicações, por estar situado fora da estrada geral e distante de Goiás 26 léguas, para onde unicamente tem um correio mensal; talvez haja mesmo quem diga, que a empresa é superior às minhas forças e que não calculei a tarefa que me impus; eu concordo com todos e é mesmo porque reconheço a pobreza dos meus talentos, que nenhum outro nome me pareceu tão análogo a este periódico, como Matutina, cuja luz muito pouco clareia, mas como se lhe pode negar ser a precursora do dia, creio que assim mesmo irei dissipando as trevas, até que Espíritos Iluminados queiram espalhar suas luzes .
Além dos ideários liberais, percebe-se claramente a presença de um discurso iluminista no texto do Matutina Meiapontense, que acabou influenciando na escolha do seu nome. A Matutina teve duração de quatro anos, num total de 526 exemplares. Sua abrangência extrapolava os limites do Estado de Goiás, adentrando-se no Mato Grosso. Em março de 1836, o Presidente da Província José Rodrigues Jardim comprou a tipografia da Matutina, dando início à criação da imprensa oficial em 1837, na cidade de Goiás, através do Correio Oficial de Goiás.
A partir do número 179, de 21 de maio de 1831, a Matutina passou a trazer no cabeçalho as seguintes frases: “Os Reis só são legítimos quando governam com a Constituição” e “O Direito de resistência é direito público de todo povo livre”, que expressam uma ação política da imprensa nacional que ganhou força e destaque nas lutas pela Independência.

Tribuna do Planalto, Jornal com História

Jornal da Segunda

O Jornal da Segunda nasceu da idéia de Sebastião Barbosa e Luiz Carlos Rangel de cobrir os espaços da segunda-feira, já que os jornais diários da época não tinham circulação as segundas e as matérias de esporte do final de semana eram veiculadas no impresso somente às terças-feiras.
Em 1986, Sebastião e Luiz Carlos eram contratados da Organização Jaime Câmara, Sebastião trabalhava na área de fotolito e Luiz Carlos era editor da área de esportes do jornal O Popular. Eles fizeram uma enquête e concluíram que um jornal só de esporte seria muito lido, mas, teria pouco retorno comercial e por isso o jornal precisaria também abordar outras áreas jornalísticas. O Jornal da Segunda foi lançado no dia 7 de julho de 1987. Criaram o jornal com oito páginas de esporte e o restante de notícias gerais. A primeira sede foi na rua 20, no centro de Goiânia, depois se mudou para o setor Aeroporto e finalmente para a sede atual na Vila Aurora.O jornal contou com a colaboração de colunistas como: Luiz Carlos Bordoni; Paulo Beringhs; Boris Casoy; Lílian Witte Fibe; Mônica Waldvogel, entre outros.

Pioneiro na informatização

O Jornal da Segunda foi o primeiro jornal do Estado de Goiás a ter o sistema de composição gráfica informatizado, segundo Sebastião Barbosa. Em 1994, o jornalista Paulo Beringhs que trabalhava como editor no jornal O Popular, foi para o Jornal da Segunda e assumiu a direção de jornalismo. Paulo Beringhs adquiriu os equipamentos necessários em São Paulo e o jornal ofereceu a três jovens um curso de manuseio, já que não existiam pessoas aptas à operação dos novos equipamentos na época em Goiás. Três meses depois os jovens já estavam formados e trabalhando para o Jornal da Segunda. “As empresas de comunicação foram se informatizando. A gente foi o primeiro que saiu e os outros foram atrás”, destacou Sebastião.

Mudança do nome do jornal

Em 7 de julho de 2003, o Jornal da Segunda mudou o nome para Tribuna do Planalto. A mudança do nome ocorreu devido ao jornal não mais circular somente as segundas, mas ter se tornado semanal. O nome Tribuna do Planalto corresponde ao novo ideal do jornal de cobrir o planalto central, foi montado o laboratório fotográfico e surgiram as primeiras capas coloridas, inaugurando uma nova fase do jornal. “O nosso objetivo também foi fazer uma empresa de comunicação forte, mas regional, preocupando somente na sua área de espaço. Fazer uma empresa de comunicação forte aqui no Planalto Central. Na verdade, nós mudamos o nome para preparar para poder fazer um jornal diário”, afirmou Sebastião Barbosa.

A história do fundador

Sebastião Barbosa, hoje com 52 anos, iniciou o curso de contabilidade e começou a trabalhar no meio da comunicação em 1972, na primeira revista de Goiás em cores, que tinha o nome Leia Agora do empresário José Naves. Sebastião disse que começou a trabalhar na área industrial e depois se afastou por dois anos da área da comunicação para ser jogador de futebol profissional. Posteriormente, voltou a trabalhar na Folha de Goiás, que era o jornal de maior expressão na época. Ficou na Folha de Goiás por três anos e meio até ser contratado pelo O Popular, para trabalhar na área de fotolito e depois na área de editoria de esportes, onde conheceu o editor de esportes, Luiz Carlos Rangel. Sebastião lembra que em Goiânia naquela época, como jornal diário só tinha O Popular circulando. O Diário da Manhã já tinha fechado a Folha de Goiás, porque o Diário comprou o jornal. “Foi o jornalista Batista Custódio que acabou com a Folha de Goiás, ficando só com o Diário da Manhã e chegou a um ponto que o Diário da Manhã também fechou”, comentou Sebastião.
Sebastião e Luiz Carlos fundaram o Jornal da Segunda e consolidaram o jornal no meio impresso. Sebastião expôs que a impressa de Goiás mudou muito desde que ele começou a trabalhar no meio. Disse que antigamente o que pesava na profissão de jornalista era o sobrenome e a tradição familiar e relembrou sobre as dificuldades em se fazer um jornal. “Naquela época, não fazia um jornal com menos de 90, pelo menos três vezes mais o numero de pessoal, com uma qualidade muito inferior.A página de jornal era feito pelo repórter, pelo copy desk, revisor e composição e depois encaminhava para o papel fotográfico. Revisava, fazia a paginação e depois o fotolito, que é fotografar aquela página. Fotografava as fotos separadas e depois fotografava a pagina, concluindo com a montagem para ir para a impressão”.
O fundador e atual diretor geral da Tribuna do Planalto, Sebastião reconhece que começou bem pequeno o jornal, com três máquinas de escrever, uma máquina de fotolito e não tinha máquina de impressão.Sendo assim, a impressão era terceirizada. Posteriormente, montaram uma estrutura própria que hoje é a sede da Tribuna do Planalto na Vila Aurora.

Tribuna do Planalto

A Tribuna do Planalto já não tem mais cobertura esportiva como era no Jornal da Segunda, tendo uma atuação maior na editoria de política. Elizeth, atual editora geral do jornal, diz que as matérias se tornaram mais analíticas, opinativas e menos factuais, conseqüência dos leitores que estão se tornando cada vez mais exigentes. “A notícia é rápida. O leitor mais exigente esta caminhando para a revista. Daqui alguns anos o jornal impresso vai deixando essa missão de notícia rápida para a internet”.
Hoje a tiragem é de 20 mil exemplares, saindo aos domingos com 44 páginas. O jornal possui cinco cadernos: política, comunidades, cultura, um caderno do Estado do Tocantins, que circula aqui e lá, e o caderno Escola que recebe uma atenção especial.

Caderno Escola

O caderno Escola tem 20 páginas sobre educação, formação do aluno e ensino de cidadania. E segundo a editora Geral, Elizeth Araújo, o caderno é o diferencial da Tribuna do Planalto. O caderno passou por uma mudança para ficar mais pedagógico, para o professor poder usa-lo na sala de aula. “Nós temos convênios com duas secretarias, estadual e municipal, e o caderno circula nas escolas. Temos também o maior programa hoje, de concurso de redação. Somos filiados a ANJ que tem esse programa de jornal na escola para a formação de professores”.
A Tribuna recebe alunos das escolas para ver como é uma redação de jornal e como é feito. Há um Centro de Documentação, (Cedoc), que é o centro de dados do jornal que foi feito nesses 20 anos. “Talvez o nosso Cedoc tem a mesma proporção do centro de documentação do O Popular, que tem muito mais anos”, acredita o diretor da Tribuna do Planalto.
Mayara Jordana
Nathália Cristina

Imprensa em Goiás

A associação Goiana de Imprensa (AGI) foi criada por Albatênio de Godoy, na cidade de Goiás em 1934. Ela foi criada para unir os jornalistas no intuito de cuidarem e discutirem interesses comuns.

A reunião que deu origem à associação ocorreu na Faculdade de direito, sendo que, neste dia foi escolhida uma diretoria provisória que tinha como presidente o próprio Albatênio Godoy.
A diretoria provisória ficou no comando da AGI até o dia 5 de Dezembro de 1934. No dia 28 de Novembro, data em que fizeram uma nova assembléia para a aprovação dos estatutos e a eleição da diretoria, apenas uma chapa foi inscrita e eleita por aclamação. Godoy continuou como presente. Ele permaneceu no cargo por 7 anos, até 1941.

Três anos após a criação da AGI, sua sede foi transferida para a nova capital do estado, Goiânia, porém a história da AGI pode ser contada por documentos a partir de 1951, no mandato de Geraldo Vale.
Quando Godoy deixou o cargo, quem assumiu foi o jornalista Joaquim Câmara Filho, um dos diretores do jornal O popular. A partir daí ele se fortaleceu e tornou-se mais atuante na luta pela liberdade de imprensa, expressão de pensamento, pelos direitos humanos e pelo progresso do estado de Goiás.

Os jornais, além dos conteúdos político-partidários, foram responsáveis pela difusão da cultura, por meio de incentivos ao aprimoramento literário, por exemplo.
Na AGI pode-se perceber a atuação da mulher. Ela não lutava pela igualdade sexual, e sim pelo direito à participação no mercado de trabalho e a freqüentar a faculdade.



História da imprensa em Goiás


O primeiro livro publicado sobre a imprensa em Goiás saiu em 1949, com o título Contribuição à História Goiana escrito por José Lobo. Um outro livro é o do pirinepolino Braz Wilson Pompêo de Pina Filho. O livro publicado em 1971 recebeu o título Goiás: História da Imprensa.
Um dos precursores a propagar as informações do contexto histórico, econômico e social sobre a história da imprensa goiana foi Silva e Sousa. Ele reuniu as primeiras informações sobre a população goiana no século XVIII. Ele observou a pobreza e a decadência das minas. Silva ainda pode ser considerado o primeiro comunicador, historiador e estatístico goiano. Na comunicação, ele projetou o nome de Goiás pelo Brasil quando o jornal O Patriota em 1814 publicou a sua Memória Histórica. Silva e Souza também foi um dos primeiros colaboradores da Matutina Meiapontense em 1830. Silva e Souza ainda escreveu em 1832 a Memória estatística da Província de Goiás. Ele morreu em 1840 com 76 anos de idade e foi enterrado na Igreja do Rosário na Cidade de Goiás.
A história da imprensa em Goiás pode ser dividida em cinco períodos. O primeiro vai de 1830 a 1834. Essa fase é marcada pelo surgimento do 1º jornal goiano: A Matutina Meiapontense. O segundo período é um pouco mais longo que o primeiro. Ele vai do fim da matutina até o aparecimento do Correio Oficial de Goiás e de vários outros periódicos marcados por um teor ideológico abolicionista, republicano ou político local. O terceiro período vai desde o fechamento do Correio Oficial em 1890 até 1936 com a criação da Associação Goiana de Imprensa, AGI, até 1936 com a transferência do Correio Oficial para Goiânia. O quarto período vai até 1945. Ele é marcado pelo surgimento de periódicos como a revista Oeste e a implantação do Departamento de Imprensa e Propaganda, DIP, no governo de Getúlio Vargas.


A Matutina Meiapontense


A Matutina Meiapontense surgiu no antigo arraial de Meia Ponte, atual Pirenópolis, no dia 5 de março de 1830. Neste mesmo ano, também surgiu a Lei de Imprensa, ditada pelo governo para regular a linguagem ideológica que era considerada ferina e imoral pelo governo.
A Matutina surgiu em um momento em que os brasileiros estavam comemorando a liberdade. Na época, o Brasil havia acabado de proclamar a independência. Assim, surgia a necessidade de se criar um periódico que pudesse registrar os sentimentos de um povo que até o momento vivia da garimpagem.
O surgimento do matutina ecoou como um reforçador dos princípios da Revolução Francesa que pregava postulados liberais e combatiam abertamente o absolutismo.
A primeira Lei Brasileira de Imprensa foi promulgada no dia 22 de novembro de 1823, antecedendo a Carta magna de 1824. Um dos tópicos da lei era que nenhum escrito de qualquer qualidade, volume e denominação está sujeita à censura, nem antes ou depois de impresso. Porém somente em 1830 uma nova lei surgiu para regulamentar a matéria, discriminando abusos passíveis de punição. Durante o império a imprensa contava com relativa liberdade. A Matutina Meiapontense circulou de 5 de maio de 1830 a 24 de maio de 1834, com um total de 526 números. As vezes saia as terças feiras e Sexta, passando a partir do número 25 a sair três vezes por semana.
Segundo José Lobo, a Matutina “serviu com lealdade à causa da democracia, defendendo os interesses do povo”.


Correio Oficial


O Correio Oficial circulou pela primeira vez no dia 3 de junho de 1837, sob a direção de Mariano Teixeira dos Santos. Ele usou o mesmo tipógrafo do Matutina. Esse periódico circulou durante 15 anos quando os atos oficiais, segundo informação de José Lobo, passaram a ser publicados no jornal O Tocantins.
Depois de algum tempo com a mudança da capital do estado, o Correio Oficial começou a circular em Goiânia em 1936. Ele trazia algumas páginas ao então interventor Pedro Ludovico Teixeira e uma saudação à jovem Goiânia. Em 1940, O Correio recebeu um ampla reforma, com a aquisição de modernos aparelhos de composição e várias máquinas automáticas. A partir de esse fato em 12 de março de 1944, o Correio Oficial veio a se chamar então, Diário Oficial.
Ana Flávia Teixeira
Mirian Naiara Vasconcelos

História da Imprensa Esportiva em Goiás

Pouco se sabe da história da imprensa esportiva em Goiás. A profissionalização do futebol goiano ocorreu quando Goiânia tornou-se a capital do Estado. O primeiro time que surgiu em Goiás foi o União Americana Esporte Clube, em 28 de abril de 1936. No entanto, o time teve vida curta.
A imprensa esportiva goiana surgiu no amadorismo, na necessidade de fazer a cobertura dos times de Goiânia. O Atlético Clube Goianiense nasceu em 2 de abril de 1937. O Goiânia Esporte Clube foi fundado em 28 de julho de 1938 por Ademar Martins Vieira.
Quando a cidade de Goiânia começou a despontar no cenário nacional, surgiram os principais clubes goianos. O Goiás Esporte Clube nasceu em 6 de abril de 1943, e o primeiro presidente do clube foi Osório de Oliveira. Já o Vila Nova Futebol Clube foi fundado em 29 de julho de 1943. Francisco Ferraz de Lima foi o primeiro presidente do time.
Nesse mesmo período da história goiana surgiram times de futebol no interior do Estado, como o CRAC em Catalão, o Anápolis Futebol Clube e a Anapolina em Anápolis, Goiatuba, Itumbiara e Rio-Verdense. Com o surgimento desses clubes, houve a necessidade de uma imprensa esportiva, que por meio do rádio, faria a cobertura das equipes em todo o Estado.
O primeiro Campeonato Goiano de Futebol foi disputado em 1944, com o Atlético Clube Goianiense levantando a taça de campeão e o vice-campeonato ficou com o Goiânia Esporte Clube.
Desde o período do amadorismo até os dias de hoje, a imprensa esportiva goiana sempre foi atuante, cobrindo o esporte goiano (principalmente o futebol), contribuindo assim para a consolidação da crônica esportiva no Estado. Com o apoio da Internet, a imprensa esportiva goiana cresceu muito, incluindo em seu currículo coberturas de eventos internacionais, como por exemplo, a Copa do Mundo de Futebol.
Nomes como Manoel de Oliveira e Édson Rodrigues, pioneiros do jornalismo esportivo goiano, permanecem ativos na profissão até hoje, o que comprova de certa maneira, que mesmo com a consolidação da crônica esportiva no Estado, não há muita renovação na imprensa esportiva goiana. Mas isto é uma outra história!


Hugo Faria
Paulo Henrique Almeida

“Quem deveria fazer o papel de oposição não é o jornal”



O jornal O Popular foi fundado em 3 de abril de 1938 por Joaquim Câmara Filho, em parceria com seus irmãos Vicente Rebouças e Jaime Câmara, já como reflexo da renovação política do país, a partir da chamada Revolução de 30. O jornal foi criado um ano depois de que os irmãos Câmara transferiram-se para Goiânia e instalaram a então recém-fundada firma J. Câmara & Irmãos - que depois passou a se chamar Organização Jaime Câmara (OJC). Nesse contexto histórico nasce Tasso Câmara, filho mais velho de Joaquim Câmara. Tasso começa a trabalhar na OJC aos 13 anos de idade, tornando -desde cedo- testemunha e responsável pela a evolução e consolidação da OJC e da imprensa em Goiás.
Hoje, a Organização Jaime Câmara se desdobra em jornais, emissoras de rádio, estações de televisão, serviços gráficos, além de inúmeras outras atividades empresariais e sociais. Tasso atualmente, aos 73 anos, é Diretor Superintendente da OJC e Presidente do Conselho Curado da Fundação Jaime Câmara. Em entrevista concebida no dia 19 de outubro de 2005, ele retrata os fatores tecnológicos e políticos que marcaram a história da imprensa goiana, a partir da fundação da OJC.


O que mudou na imprensa, em Goiás, desde o ingresso do senhor nela até os dias atuais? E de que maneira o jornal O Popular contribuiu para as inovações do jornalismo goiano?
Tasso Câmara: No começo o jornal era feito manualmente – palavra por palavra- depois se passou a compor na linotipo e atualmente pela computação. Inicialmente, os processos de impressão do jornal eram feitos por máquinas planas rodadas a mão, que foram em seguida substituídas pelas rotoplanas. Hoje em dia o jornal é impresso em máquinas rotativas, também chamadas de off set. Essas inovações e evoluções foram iniciadas pelo O Popular.

Quando se criou O Popular, muitos outros jornais surgiram como concorrentes a ele. Quais eram esses jornais?
Tasso Câmara: Na época que O Popular foi fundado, os seus grandes concorrentes eram os jornais de Minas Gerais como o Correio Católico de Uberaba e o Repórter de Araguari, que tinha grande influência na política. Inclusive, nessa época, os políticos de grande prestígio naquela região eram eleitos deputados em Goiás.

O jornalismo nem sempre foi exclusivamente informativo, pois antigamente apresentava um caráter político, partidário. Inicialmente, o jornal O Popular era gerenciado dessa maneira ou não?
Tasso Câmara: Na época, o jornal tinha ligações com o governo em função dos Diretores, os proprietários, serem políticos. O meu pai - Joaquim Câmara Filho- foi, durante um tempo, Secretário de Estado da Agricultura, enquanto meu tio - Jaime Câmara - foi Deputado Federal e Prefeito de Goiânia. Portanto, havia uma influência política no veículo, o que não existe hoje. Nós não temos políticos. Porém, a independência do jornal O Popular em relação ao Poder Público, não ocorreu de uma vez, demorou vários anos para atingir o estágio atual.


Como se dá a independência do jornal O Popular?
Tasso Câmara: A independência é de interesse público, da coletividade. Nós fazemos jornal visando à melhoria do Estado e não para o Governo. Você não pode buscar um acontecimento, só tem que divulgá-lo. O jornal não nasceu para realizar denúncias, mas para reproduzir e publicar o fato quando esse existe. Quem deveria fazer o papel de oposição não é o jornal, e sim o poder Legislativo que não o faz.

Quais são os desafios a serem enfrentados pela imprensa goiana? O que falta e precisa melhorar?
Tasso Câmara: Hoje, o jornal é todo feito por meio de computador. Como a evolução no sistema de informática muda com freqüência, é preciso investir, evoluir para acompanhar o mercado. Deve-se sempre aperfeiçoar os equipamentos, não se pode parar.

Entrevista com Míriam Raquel - Diretora da Rádio Aliança


A radiodifusão em Goiás sempre conseguiu atingir satisfatoriamente o público ao mesmo tempo informando e entretendo o ouvinte. E é partindo dessa idéia que a Rádio Aliança busca atingir os ouvintes diariamente.
A diretora geral das rádios Aliança e Fonte da Vida, Miriam Raquel, em entrevista ao nosso jornal contou-nos um pouco da história da rádio destinada ao público cristão, em especial evangélico.

Miriam, quando a Rádio Aliança foi criada?
Miriam Raquel: A Rádio já tem mais de trinta anos de fundação, mas ela está conosco, gerenciada pela RC Produções, com esse novo perfil de programação cristã com jornalismo, futebol e política desde 1º de julho de 1997.

Ela já teve muitos proprietários?
Miriam: Não, Abrahão Berberian foi o primeiro proprietário mas como ela existe há muito tempo então tem muita história para trás. Anteriormente à Transmundial, que foi a última detentora antes da gente, ela tinha passado por apenas dois ou três proprietários.

A Rádio Aliança é destinada a que público?
Miriam: Principalmente para o segmento evangélico. Hoje nosso perfil é 70% formado por mulheres entre 20 e 60 anos das classes B e C. O forte mesmo é esse público, apesar de existir outros ouvintes de outros segmentos e faixas etárias.

Ela foi criada com a intenção de atingir o público em que sentido?
Miriam: A idéia principal é fazer uma rádio com programação cristã e positiva, no sentido em que a pessoa ligue o rádio e ouça uma mensagem de fé e otimismo. Não queremos passar para o público apenas aquela informação ruim, nosso objetivo é mostrar também as coisas boas que acontecem na vida e no mundo. Fazemos um jornalismo amplo tentando sempre mostrar coisas boas e passando músicas quem façam a pessoa se sentir bem, forte. Nós temos tido essa preocupação de fazer uma programação tentando resgatar os valores de família cristãos. Outro detalhe é que não fazemos rádio apenas para evangélicos, não é um culto na rádio. Temos uma programação cristã que é diferenciada, temos um momento para futebol que é bem legal, o jornalismo que é bem trabalhado, além da prestação de serviços como a bolsa de empregos. Temos também muita entrevista de orientação a muitos segmentos. A gente tenta unir a família, passar informações e também ter esse tipo de programação positiva, contra a depressão.

Quais foram as principais mudanças que a Rádio Aliança passou desde a sua criação?
Miriam: Ela passou por muitas mudanças, incluindo uma grande modernização. Nós sempre fizemos um trabalho diferenciado, implantamos um jornalismo mais ativo, mais atuante.Um exemplo é o ótimo trabalho que fizemos nas últimas eleições, nossa cobertura ano passado foi fantástica. Tudo isso faz uma diferença muito grande.

A Rádio Fonte da Vida FM 103, 7 assim como a Rádio Aliança é comandada pelo Apóstolo César Augusto. Quais são as principais diferenças entre elas?
Miriam: A Aliança é uma rádio de jornalismo e de serviços, ela tem o objetivo de fazer todas as denominações fazerem seus programas e poderem opinar sobre a sua forma de culto, de visão, de igreja, e todas essas coisas. A Fonte da Vida FM veio de um jeito diferenciado, o estilo musical é leve, de celebração, adoração e música internacional. Ela é muito mais musical, é uma alternativa para quem não gosta de jornalismo em rádio. Então hoje nós temos duas opções bem diferentes. Uma para o público que gosta de informação e de música popular estilo sertanejo e a outra para o público que quer uma música mais jovem.

Como a senhora encaixa a Rádio Aliança na história da imprensa de Goiás?
Miriam: Ela tem um papel diferenciado, hoje a imprensa no estado de Goiás mudou muito, principalmente nos últimos cinco anos. Nossa rádio tem um histórico de firmeza e de trabalho. Ela sempre foi isenta, e isso é muito importante. Nós nunca defendemos apaixonadamente “esse” ou “aquele”. O que pesa muito na imprensa também é esse trabalho que temos de resgatar valores, porque trazemos a informação com muito zelo. Às vezes a notícia acaba de chegar e nossa vontade é transmiti-la imediatamente, mas nós sempre pensamos “O que essa informação vai gerar no coração e na mente do nosso ouvinte?”. Então temos que ter essa segurança de passar para frente apenas a informação verdadeira, que tenha sido checada anteriormente. Não temos a intenção de denegrir e nem machucar uma pessoa, de atrapalhar uma instituição ou prejudicar um político. Nossa rádio tem um grande compromisso com a verdade, isso é algo que está no coração de cada profissional que trabalha conosco.



Pedro Henrique Mota


Tauana do Vale

“Temos toda liberdade que a economia permitir”


Um dos mais respeitados jornalistas goianos diz que uma maior independência da imprensa depende da estabilidade econômica do meio em que ela está inserida.

O jornalista Cassim Zaidem, de 51 anos, nasceu em Barretos-SP e formou-se em jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1980.
Mesmo antes de sua formação, já trabalhava como locutor, redator, discotecário, narrador de futebol nas Rádios Barretos e Piratininga e também como repórter no jornal O Diário, além de participar, esporadicamente, do jornal Estado de São Paulo como correspondente.
Após a profissionalização, em 1980, passou por varias emissoras de radio e TV da capital como a Radio Clube de Goiânia, Rádio CBN/Anhanguera, Radio K e Rede Goiana de Radio. Na televisão trabalhou na TV anhanguera, TV Goiânia e TV Serra Dourada, nesta ultima participou da implantação como gerente de jornalismo criando os telejornais TJ Goiás e Jornal do Meio-Dia.
Reconhecidamente, um participante ativo da história de construção da moderna imprensa goiana, Zaidem analisa a trajetória do jornalismo no estado, à luz de seu próprio percurso dentro da profissão. Para ele, a profissionalização da atividade foi benéfica e acredita que a qualidade dos periódicos aumentou consideravelmente nos últimos anos. Só não concorda que a culpa de nossas “deficiências” recaia exclusivamente sobre o jogo de interesses monetários, evolvendo o governo e as empresas privadas.
Atualmente, Zaidem é coordenador de jornalismo, editor, produtor e apresentador do programa Goiás Hoje (Rede Goiana de Rádio) que é retransmitido para 108 emissoras de Goiás e Mato Grosso. Ainda é editor-chefe e apresentador do telejornal 12ª Hora da TV Brasil Central. Ele falou ao Jornal O único, da redação de uma rádio local na qual trabalha, entre o intervalo de gravação dos programas.


Nos primórdios da imprensa, quando as condições do veículo ainda eram precárias, muitos dos primeiros jornalistas exerciam mais de uma atividade. Isso ocorreu com o senhor?
Zaidem: Quando eu estava na universidade só podia cursar matérias pela manhã. Algumas pessoas possuíam mais tempo livre e concluíam o curso antes dos quatro anos. Enquanto estudava pela manhã na UFG, trabalhava à tarde na rádio Brasil Central (RBC) e à noite era gerente em uma churrascaria. Assim que assumi a direção da RBC fiquei só com a rádio.

O senhor acredita ser importante a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, para exercer a profissão?
Zaidem: É importante ter um curso superior. O jornalista é um contador de fatos da realidade. É necessário ter percepção do mundo. Se você analisar, o jornalista sabe de um fato e conta essa história de uma forma para que o receptor sinta interesse naquilo que ele vai divulgar. O fato, deve-se em razão de uma seqüência de outros, compete ao jornalista analisar, perceber e fazer as possíveis relações. A faculdade favorece na aquisição de uma metodologia de conhecimento, pesquisa e ação, tudo isso ajuda. O importante é que o curso dê uma universalidade de conhecimento e depois, que o comunicador faça um curso especial na área de comunicação para aprender a se comunicar. A faculdade oferece as ferramentas de análise que serão importantes para sua vida.

A criação do curso de comunicação da UFG foi importante para consolidação e desenvolvimento da imprensa goiana?
Zaidem: Com a criação do curso de jornalismo muita gente da redação foi fazer o curso e posteriormente todos que iam para a redação já passavam pela graduação. A faculdade assumiu o papel de analisar os veículos que existiam na época. Isso provocou reflexões e idéias sobre os jornais, ajudando a mudá-lo para melhor. Houve um ganho em qualidade. Isso é tão forte que, por exemplo, todos os jornalistas que estão na direção do jornal Opopular passaram pela universidade e a própria empresa está pagando para eles cursos de pós-graduação, não há mais contentamento apenas com a graduação.

Quais mudanças são mais perceptíveis na imprensa goiana desde o início de sua carreira até os dias hoje?
Zaidem: A linguagem mudou muito. Ela se tornou mais clara e acessível quando abandonou a retórica literária. Mas também houve melhoria na qualidade das pautas, melhor abordagem e análise dos assuntos, melhores qualificação gráfica, técnica, fotográfica e maior uso de info-gráficos. Os veículos definiram um público alvo, assim o atendimento ao público pode evoluir muito.

Na década de 70, quando o senhor começou a trabalhar em Goiás, o interessado em uma concessão de rádio ou TV a comprava como ocorre hoje?
Zaidem: Só a partir da década de 90 é que as concessões começaram a ser vendidas. Antes, a pessoa ganhava o espaço por possuir influência política ou por “força” em Brasília. Foi o Sergio Mota (Ministro da Comunicação no período de 1995 a 1998) que falou: “Vamos licitar a concessão. É um bem público, então vai ser licitado”. Então, agora, o interessado deve possuir um projeto técnico e o capital para investir no veículo. Quem oferecer mais por aquela concessão e tiver o melhor projeto, sairá contemplado, porque o governo recebe o dinheiro e aplica em outra coisa. Antes, muitas emissoras surgiam por conta da simpatia política. A própria concessão da TV Serra Dourada foi ganha por um grupo de políticos, mas ganharam e venderam. Então, quer dizer, na verdade o governo estava dando dinheiro para essas pessoas, não é? Sérgio Mota, no governo FHC, falou: “acabou a brincadeira, vamos vender concessão”.

E durante o regime militar, quando a imprensa era controlada, o senhor teve algum um texto censurado?
Zaidem: (pensativo) É a coisa mais engraçada, às vezes não dava tempo de ser censurado. O jornalista não era censurado antes, a constituição de 88 proíbe a censura prévia, a punição vinha depois. Conhecíamos as regras, se as infringíssemos receberíamos a repreensão depois. Eu poderia chegar lá no Opopular e ofender o governador, aí ele me processaria e fim de papo.(risos). As pessoas de hoje podem não saber, mas até anúncio de baile de formatura, precisava de ofício que passava pela mão do comunicador e era encaminhado à Polícia Federal para poder receber autorização de divulgação. Fiz muito isso quando tinha programa no rádio. Eu tenho alguns desses papéis guardados em pastas, na minha casa. Contando ninguém acredita. Um absurdo.

Em Goiás, o censor também atuava nas redações como ocorreu em jornais como “Estadão” e “Folha de S. Paulo”?
Zaidem: Durante um período sim. Mas muitas vezes os jornais recebiam por “telex”, uma espécie de máquina de escrever comandada por ondas de rádio, a ordem de proibição, vinda de Brasília, da divulgação de um determinado acontecimento. O presidente, pelos Atos Institucionais, que eram atos de exceção, tinha poderes, por exemplo, de cassar deputados. O político era eleito pelo povo, mas podia ser cassado e a imprensa não podia publicar nada a respeito. Morria o assunto, não tinha noticiário nenhum, entende?

O senhor poderia fazer uma avaliação do panorama da imprensa goiana comparada às outras referências, como os jornais mais tradicionais?
Zaidem: A imprensa tem que ser comparada dentro do potencial econômico da sociedade em que ela está inserida. Vocês não podem comparar as suas vidas com a vida do Bill Gates (risos). Porque é a economia de uma determinada sociedade que possibilita determinada imprensa. Temos toda liberdade que a economia permitir. A imprensa é um veículo, mas ela é também uma empresa que depende de receitas publicitárias, essas receitas publicitárias são oriundas do mercado, o mercado tem o tamanho que uma determinada economia comporta. Se a economia de uma determinada região é forte, os veículos terão boas receitas, então boas receitas atrairão bons investimentos, que por sua vez possibilitarão a contratação de bons profissionais, bons colunistas, será possível fazer viagens, fazer matérias especiais. Se a economia é fraca, então ocorre o oposto. Não podemos comparar a BBC com a TV Anhanguera, entendeu? A imprensa aqui (referindo-se à Goiás) é muito diferente daquela do Rio, de São Paulo, óbvio. Lá, são anunciantes nacionais, pesos nacionais, economias de envergadura nacional, quando nós estamos trabalhando com economias locais. A gente não pode imaginar que as coisas são de graça, o jornal contrata um repórter, paga o fotógrafo, todo o maquinário, todo corpo técnico gráfico, tem tudo para elaborar, custa dinheiro. A imprensa goiana até que dá respostas satisfatórias, analisando pelo ponto de vista econômico desta sociedade.

O senhor acha que a imprensa goiana é muito dependente do anunciante local a ponto de alguns assuntos tornarem-se intocáveis?
Zaidem: Sempre o comercial quis influenciar, isso é normal. É uma briga eterna, mas dizer que a redação aceita pacificamente as imposições do capital, também não é verdade. Em um momento o comercial consegue ganhar um pouco mais, em outro ponto, a redação tem mais força. Como um cabo de guerra. A redação não é ditada pelos interesses comerciais, exclusivamente. Nem os interesses comerciais são ditados por aquilo que a redação quer. Há sempre um equilíbrio.


Almiro Franco Neto

Vinícius Tondolo

“A adaptação do homem é mais lenta do que as mudanças tecnológicas”

Primeiro logotipo da TV Anhanguera


O jornalista mineiro José divino foi pioneiro do rádio em Minas Gerais e da Televisão em Goiás. Com mais de 50 anos de carreira, ele se tornou participante destacado da história da imprensa em Goiás. Durante a entrevista concedida ao jornal O Único, o jornalista revela suas lembranças do rádio da década de 50 e do advento de TV, quando inaugurou a programação jornalística da Televisão Anhanguera. Hoje José Divino é diretor executivo do telejornalismo da Organização Jaime Câmara e produz diariamente o programa a Hora do Ângelus.

Como você iniciou sua carreira na Organização Jaime Câmara?
José Divino: Eu vim de Minas Gerais, passei por São Paulo, Rio, Brasília. Já havia trabalhado em rádio, jornal e televisão. Não pensava em vir para Goiás, mas quando estava trabalhando em Brasília me chamaram para trabalhar aqui. Inauguramos a Televisão Anhanguera em caráter experimental, na década de 60.

Qual foi o primeiro programa que você participou na Televisão Anhanguera?
José Divino: O primeiro programa foi “O Popular no Canal 2”, no qual as informações eram transmitidas de forma ainda insipiente, com filme preto e branco e negativo.Fazia-se montagem de edição jornalística no olho. Comecei fazendo praticamente tudo sozinho, naquele trabalho dia e noite para notícias de cinco minutos. Depois vieram outros elementos e o departamento começou a ser montado. As informações eram captadas na redação do jornal O Popular. Não tinha tele-tipo, era rádio telegrafia, depois vieram as torres de microondas e as conexões por satélite. As mudanças são rápidas e a adaptação do homem às vezes é mais lenta do que as mudanças tecnológicas. Por isso o jornalista não pode ser só jornalista, uma área de especialização vai ajudar.

Já que você está falando em formação, como foi a sua?
José Divino: Na minha época não existiam faculdades de jornalismo. O registro era obtido no Ministério do Trabalho. Era necessário ter carteira assinada durante um determinado tempo. Eu obtive o registro antes de implantar o jornalismo em Goiás.

O nível dos profissionais melhorou com o surgimento dos cursos de Jornalismo?
José Divino: Vai melhorando o conhecimento teórico, o qual tem que ser acoplado com a prática. Da universidade sempre tem a oportunidade de sair o profissional perfeito, completo.

Entre todas as transformações, alguma coisa permanece?
José Divino: O pensamento não evoluiu, involuiu. Temos pessoas maravilhosas no mundo, mas tem muito canalha também. Então o jornalista tem que ter sensibilidade para acompanhar a vida das pessoas. A palavra tem peso, escrita ou falada. E como jornalista mexe com isso tem que prestar atenção. Dizer as coisas corretamente, ter ideal, ter responsabilidade, ser bom profissional, saber ver por trás dos interesses.

E durante a ditadura, como era?
José Divino: Quando se perde as liberdades, um sintoma que se vê é a insensibilidade. Os governos totalitários procuram controlar tudo da vida do cidadão através das instituições e da formação. Houve um controle absoluto, controle férreo nas redações dos jornais, rádio e televisão. Mas quando queríamos criticar subliminarmente, sabíamos o quê fazer. Muitos colegas foram presos, eu não cheguei a ser preso. Talvez porque o escândalo fosse muito grande, botar na cadeia alguém que estivesse tão visível.

E a Hora do Ângelus?
José Divino: Começou em 63, abriu a Televisão Anhanguera. Primeiro era o Selem Domingues que escrevia e lia o texto, depois eu comecei a fazer. Estive ausente durante um ano e o Wellington Oliveira continuou lendo o Ângelus com texto de Jávier Godinho, que está até hoje. Voltei e depois de três reassumi e continuo até hoje.


Você presenciou o incêndio da antiga sede da TV Anhanguera?
José Divino: O incêndio foi em 69 e aconteceu num domingo, por isso eu estava fora. É traumático, parece que consome uma parte da sua vida. Ficamos quase uma semana fora do ar, voltamos a trabalhar com equipamentos comprados. É claro que todo mundo fica abalado, mas aí entra a chama interior. Pensamentos é força e quando você transforma pensamento em palavra, ela tem peso e constrói coisas boas. Nós estamos com 41 anos no ar, com uma boa equipe e dando importância à informação correta. Essa tem que ter coerência; isenção total não existe, porque todos temos um padrão cultural e econômico. Mas te m que haver uma noção de realidade e fazer isso caminhar.


Kamyla Maia
Rosimeire Ramalho

“O mercado de trabalho não prepara ninguém, essa função é da universidade”


A tranqüilidade parece ser sua marca registrada. Foi assim durante seu horário de trabalho em meio a visitas e telefonemas que o jornalista Jordevá Rosa, 16 anos de profissão recebeu a Agência de Notícias da UFG para uma entrevista no estúdio de gravação do Jornal do Meio Dia.
O diretor de jornalismo da TV Serra Dourada teve sua carreira projetada com a cobertura do seqüestro de Wellington Camargo, irmão da dupla Zezé de Camargo e Luciano no ano de 1999. Foi para a emissora que os seqüestradores enviaram a prova de que a vítima estaria viva após um longo período de silêncio. O corte da orelha entrou para a história dos crimes bárbaros cometidos no estado e marcou definitivamente a carreira de Jordevá.


Quem foram os idealizadores da TV Serra Dourada? Esses profissionais ainda trabalham na emissora?
Jordevá Rosa - Quem idealizou foi o jornalista Cassim Zaidem, o primeiro diretor de jornalismo da TV que hoje trabalha em outra emissora. A TV Serra Dourada surgiu no dia 14 de maio de 1989 quando o grupo Alves de Queiroz comprou a concessão do SBT que na época pertencia à TV Goyá. A emissora surgiu com a idéia de se criar um jornal alternativo mais popular e de alcance social. Nós temos funcionários com muitos anos de casa, eu, por exemplo, tenho 14 anos, a Luciana Finholdt tem 15. Houve uma substituição que é natural no processo de trabalho, mas temos muitos funcionários com um tempo razoável de casa.

Quais foram as estratégias que a emissora usou na época para alcançar a audiência?
Jordevá Rosa - Estabelecemos uma linha editorial diferente da que existia na principal concorrente, ou seja, abrimos espaço para a população. Na época, era uma coisa mais difícil, as emissoras eram mais fechadas, não tinham uma linha popular para que o povo pudesse mostrar seus problemas e fazer suas cobranças.

O jornalista Paulo Beringhs apresentou e também comandou o Jornal do Meio Dia desde o início da sua criação. Após a saída do apresentador houve alguma alteração no formato do jornal?
Jordevá Rosa - Sim, várias. O jornal tinha uma linha editorial muito política, muito forte, nós trabalhamos com a política hoje, mas trabalhamos principalmente a informação, o chamado jornalismo de prestação de serviços, mas, tudo o que se produz aqui dentro tem um significado para o dia a dia da população, principalmente para o público C que é aquele que tem mais carência de informação.

Qual a característica pessoal que o senhor imprimiu ao jornal trabalhando como diretor de jornalismo da emissora?
Jordevá Rosa - A principal característica é a simplicidade. Eu não sou de ficar dando dura, brigando, xingando em redação, pelo contrário eu fiz questão de não criar uma sala para diretor de jornalismo justamente para ficar no meio dos jornalistas, coisa que não existe em televisão aqui, todo mundo tem sala. Eu acompanho todos os passos, eu não sou daqueles que pegam o trabalho pronto e cobro, eu ajudo a resolver, faço isso tanto na edição quanto na apresentação. Eu sou no estúdio o mesmo que eu sou fora, não fico criando tipo, impostando voz e nem fazendo gritaria.

A cobertura que o senhor fez do seqüestro do Wellington Camargo deu uma projeção maior ao seu trabalho. Aquele foi o momento mais tenso da sua carreira?
Jordevá Rosa - Não, ele não foi tenso. Foi o momento mais importante porque nós conseguimos bater a concorrente em todos os aspectos. Aquele foi um dia especial, nós conseguimos chegar ao local onde o Wellington foi deixado, apenas nós e a Bandeirantes mostramos a chegada dele ao hospital, chegamos ao cativeiro primeiro, à noite enquanto o pessoal todo chegou somente no outro dia e conseguimos a primeira entrevista com ele graças a um rodinho. Nós colocamos um microfone e levamos o rodo até o segundo andar da clínica. Essa cena foi capa da Veja que mostrava um dos quatro momentos mais importantes do Programa do Gugu. O Wellington foi internado na Clínica Amparo e ninguém conseguia entrar lá. O pai dele aparecia na janela toda hora, dava tchau e voltava. Como chegar lá? Não tinha jeito de jogar o microfone. Foi então que pegamos dois rodos colocamos uma fita adesiva e pregamos o microfone. Isso tudo ao vivo no Programa do Gugu. Nós pedimos ao pai do Wellington que levasse o microfone até ele. E então ele entregou o microfone e nós fizemos a primeira entrevista ao vivo. Momentos tensos nós tivemos vários, a cobertura da rebelião do Cepaigo, por exemplo, em que nós passamos a noite inteira acordados em meio de tiroteios...Mas é isso, esse é o nosso dia a dia, eu gosto de fazer isso.

Como controlar a ansiedade e o nervosismo diante dessas situações?
Jordevá Rosa - Eu sempre fui muito calmo. Isso é uma característica pessoal, mas a segurança parte do volume de informação que você tem e da certeza que você consegue fazer esse serviço.

No cenário nacional, o SBT iniciou uma nova fase no telejornalismo com a criação do SBT Brasil, comandado pela jornalista Ana Paula Padrão. De que forma a criação desse jornal reflete no trabalho realizado pelas afiliadas? Houve alguma mudança com a criação do jornal?
Jordevá Rosa - Sim. Primeiro porque é muito importante você ter um jornalismo de rede, você trabalha a notícia em nível nacional, a repercussão dela é outra. Segundo, porque há uma cobrança maior e isso tem que existir mesmo porque as praças têm que ajudar a abastecer o SBT Brasil. Acima de tudo você trabalha com gente competente, que sabe o que está fazendo. Pra nós em todos os sentidos isso é muito importante. Claro que existe mais trabalho, mais pressão, mas é muito melhor, já cobrávamos isso há algum tempo.

Quais são os projetos da TV Serra Dourada a médio e longo prazo?
Jordevá Rosa - Estamos adquirindo nesse momento todo o equipamento digital e iremos substituir tudo até o mês de dezembro. Será um projeto enorme. Nós vamos ter um resultado melhor de imagem e de som com a garantia de qualidade que as fitas não oferecem. Esse vai ser um investimento muito caro para a televisão, mas será um caminho sem volta, não há como deixar de ser feito.

A UFG deu a formação acadêmica necessária para o senhor conseguir atuar bem como jornalista?
Jordevá Rosa - Eu tive problemas na UFG porque na época tínhamos apenas uma câmera VHS. Meu grande laboratório foi a Rádio Universitária que me deu base para a televisão. Quando eu estudei, eu fazia diagramação com uma régua de paica, hoje você faz no computador. Mudou tudo. É importante o estudante perceber que existem novas possibilidades no jornalismo. Hoje existe o jornalismo comunitário, o webjornalismo, a assessoria que é uma área que vêm se expandindo. As pessoas entenderam que é importante ter um jornalista do lado para cuidar da sua informação. Não é errado como muita gente pensa ter um jornalista fazendo assessoria, é importante ter.

Atualmente o estado de Goiás oferece boas perspectivas para o jornalista recém formado?
Jordevá Rosa - A perspectiva de mercado não é boa porque existem muitos cursos o que gera também um número grande de profissionais no mercado. A universidade tem uma responsabilidade muito grande que é colocar esse pessoal no mercado em condições de trabalhar. O processo de seleção será muito mais forte o que vai exigir um profissional melhor preparado. O mercado de trabalho não prepara ninguém, essa função é da universidade e se elas não fizerem isso, vão colocar esses estudantes numa situação bastante complicada na hora da disputa pelo mercado.


Isaura Carrijo

“Com o jornalismo você ganha tão pouco que tem que trabalhar em muitos lugares”

O jornalista Jávier Godinho, 67 anos, é um profissional de extensa participação na história da imprensa goiana. No meio há 46 anos, ele estabeleceu laços de amizade com Tasso Câmara e iniciou sua carreira na comunicação aos 17 anos. Graduado em Direito pela Escola de Direito de Goiás (único curso da época), Jávier Godinho relata seus conhecimentos, mostrando ser experiente na área jornalística. Nunca fez um curso em Comunicação Social, no entanto isso não foi empecilho para trabalhar em jornais como O Popular e na Rádio Brasil Central. Atualmente trabalha no Diário da Manhã, TV Anhangüera, Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e escreve artigos para pessoas como o governador de Goiás, Marconi Perillo.


Quando o senhor começou no meio jornalístico como era o formato dos jornais diários? Quais eram esses jornais?
Jávier Godinho – Só havia dois jornais diários em 1959 quando comecei como revisor do O Popular. Eles não tinham manchete, não tinham fotografia na primeira página, era clichê. Saia mais na primeira página aniversários. “Aniversaria hoje a inteligente criança fulano de tal, filho de fulano de tal”. Morte também saia. Os jornais eram atrasadíssimos. Os jornais eram O Popular e Folha de Goiaz. Folha de Goiaz era melhor que O Popular.

Naquela época havia muita influência do Estado e do chamado poder econômico nas notícias publicadas?
Javier Godinho – O Estado não influenciava tanto. O jornal hoje, como ontem e de qualquer época é a voz do dono. O Diário da Manhã e eu trabalho lá, é a voz do Batista Custódio. Então estou falando disso, de experiência própria, o jornal é a voz do dono. Todo jornal é o retrato do dono. O Globo é a voz do Roberto Marinho. Agora, jornal hoje custa caríssimo, televisão custa caríssimo, você não imagina quanto custa uma câmera de televisão. Isso tudo depende de muito dinheiro. Então quem paga isso para empresas é quem tem um certo controle, não é assim um controle direto, mas influencia muito. É um peso considerável para o poder econômico. Em compensação hoje acabou o mundo socialista, o mundo comunista. Na Rússia, o principal jornal “Estrela Vermelha” era conduzido pelo comitê soviético. Totalmente comunista. Em Cuba, todo jornal é Fidel Castro, o que ele pensa, senão fecha o jornal.

Então o senhor considera que a liberdade de imprensa é uma ilusão?
Javier Godinho – É uma ilusão sim esse negócio de liberdade de imprensa. Uma hora a gente aprende. Como uma época hoje o PT sumiu. Mas essa época eu era editor do jornal. O pessoal que saia do curso de jornalismo da Universidade Federal, todo mundo chegava achando que tava com o rei na barriga. Ia poder escrever o que quisesse. Isso eu vi demais em redação. Dono o manda embora. Se você quiser um jornal, você vai ter que fazer e depois quando fizer, vai ver que não era o que queria. Também vai depender de como você vai pagar. Então é um sistema universal. Não é só em Goiás.

Em que época o senhor considera que a imprensa goiana evoluiu e como foi essa evolução?
Javier Godinho – Quem mudou a face da imprensa goiana foi o Eliéser Pena nos anos 50. Eu já o encontrei no O Popular, ele foi quem fez a revolução aqui na imprensa e ele é vivo. Está aí, tem 80 e tantos anos, lúcido, colabora no Diário da Manhã, ele é ótimo. Ele que introduziu manchete, colocou fotografia e notícias de esporte na primeira página. Ele tinha vindo para trabalhar para a Folha de Goiaz, na hora ele acabou no O Popular. Revolucionou o jornal O popular. Uma vez ele provocou um escândalo enorme com um concurso de Miss. Tinha uma goiana, Jussara Marques, que ganhou o concurso de Miss Brasil. E ele colocou a fotografia dela de maiô na primeira página. Mas deu um escândalo que você nem imagina.

Nos anos 50 os jornais continham ideologias políticas oposicionistas em suas matérias?
Javier Godinho – Nessa época surgiram alguns jornais com peso aqui. Um era do PSB chamado “O Social”, mas só dava notícias boas do governo. E outro da oposição, só dava notícia ruim do governo. Esse se chamava “Jornal do Povo”. Inclusive às vezes circulavam diariamente. Teve um, era um jornal de oposição, chamava-se “O Momento” e esse brigou feio com o governo. Mataram um jornalista aqui em Goiás baleado.

Como isso aconteceu e qual foi a repercussão desse assassinato?
Javier Godinho – É a história do “O Momento”. Foi em 1953, eu não morava aqui ainda, vim em 54. O jornal deu a seguinte manchete: “O homem chegou e deu à luz”. Os exemplares do jornal saíram cedo e quando chegou meio-dia já tinha um repórter morto e dois diretores do jornal no hospital. A história é simples. Na época Celg e Saneago eram uma coisa só, chamava-se DAE, Departamento de Água e Energia. O diretor também era um só, chamava-se Pedro Arantes. A usina daqui, usina Jaó, era ainda muito atrasada e produzia pouca energia. Dessa forma, havia um racionamento de energia nos bairros de Goiânia, sendo que em um dia a energia era ligada para determinado bairro e no outro dia a energia desse mesmo bairro era cortada. Certa vez, o Pedro Arantes precisou tirar uma radiografia no IEPC, mas o bairro em que ele foi não havia energia. Portanto, não conseguiu tirar a radiografia. Sendo diretor do DAE ele pediu um telefone, ligou no DAE e mandou ligar a energia para aquele setor. Em pouco tempo tiraram a radiografia dele, mas logo depois cortaram novamente a energia. Moral da história: o pessoal do jornal ficou sabendo disso e o jornal circulou com a matéria “O homem chegou e deu à luz”. Chateado com a reportagem, o Pedro Arantes chamou alguns jagunços que trabalhavam na polícia e foi para a porta do Lord Hotel. Do hotel ia saindo o diretor do jornal, Antônio Carneiro Vaz, o irmão dele, João Carneiro Vaz e um repórter chamado Aroldo Gurgel. Quando eles saíram na porta atiraram neles. Mataram Aroldo Gurgel, deram oito tiros no Antônio Carneiro Vaz. Hoje ele é conselheiro do Conselho de Conta do município. O irmão dele, João Carneiro Vaz, levou dois tiros. Isso abalou muito a cidade e o Brasil inteiro.

Então Goiás ainda era tomado pelo coronelismo?
Javier Godinho – Sim, coronelismo. Durante 34 anos tomado pelo Ludoviquismo, Pedro Ludovico Teixeira. Dos anos 30 até 64.

E O Popular hoje ainda domina o mercado?
Javier Godinho – Domina por causa da televisão. Não tem força de comunicação maior que a televisão. Então você trabalha em conjunto e dá o apoio. Também é o jornal mais antigo, fundado em 1938. É um bom jornal. E ao contrário de antigamente, hoje não temos jornais de oposição.

O senhor trabalha em que área no Diário da Manhã? E na Fieg?
Javier Godinho – Eu faço reportagens, hoje mesmo estou terminando uma sobre o aniversário de Goiânia. Faço artigos duas, três vezes por semana. Na Fieg eu faço serviços de imprensa, criando artigos jornalísticos, por exemplo.

O senhor alcançou seu objetivo financeiro com o jornalismo?
Javier Godinho – È o seguinte: com jornalismo você ganha tão pouco que você tem que trabalhar em muitos lugares, esse é um conselho que sempre dou. Se você quiser ser livre, não trabalhe em um lugar só. O patrão vai achar que você depende dele. Fica horrível depender. Ele tem que ser seu amigo, seu parceiro, mas tem que ter um biombo separando. Ou seja, ele é o patrão e eu sou o empregado. Você tem que procurar ter muitos patrões. Eu atualmente trabalho na Fieg e no Senai fazendo artigos jornalísticos. Faço artigos para o presidente, artigos para jornais. Trabalho de manhã para o Diário da Manhã, trabalho para TV Anhangüera na “Hora do Angelus”. Eu trabalho nesse programa 2 dias, entrego todo dia 10 e gravo para o outro mês. Eu colaboro em várias publicações espíritas. Desde o começo do governo do Marconi Perillo, eu faço textos para ele e para sua esposa. Lógico que é remunerado. Então eu me viro. Eu já sou aposentado como jornalista. Não se iluda, eu trabalhei a vida inteira contribuindo com o máximo da previdência social. Aposentei com 10 salários mínimos, o que seriam hoje 3 mil e vai só emagrecendo. Eu trabalhei também na Rádio Brasil Central, Cerne. Então, eu tenho uma aposentadoria pequena lá.

O que o senhor acha sobre a opinião da juíza de São Paulo em acabar com o diploma de jornalismo?
Javier Godinho – Eu acho que ela está errada, porque aí é proibição. Escrever qualquer um pode, agora profissionalmente tem que ser um profissional. Senão nenhum curso precisará de diploma, porque qualquer um que pegar um livro e estudar Direito, por exemplo, poderá advogar.

O que poderia melhorar na imprensa goiana?
Javier Godinho – Eu acho que o que tem que melhorar na imprensa goiana tem que melhorar na imprensa do país, porque é igual. Pegue os jornais do Rio, os jornais de São Paulo. Aqui é uma continuação. Com a Internet você sabe de tudo, você não vê um jornal dando um furo no outro. Aquela concepção de aldeia global aconteceu. Você sabe de tragédias como a Tsunami. O mundo todo horrorizado. No final do século XIX uma enchente matou mais de um milhão de pessoas, mas não tem nenhuma emoção contar isso agora. Tem que ter notícia quente. Antigamente você só sabia o que acontecia dez anos depois.

E sobre o webjornalismo? O senhor acha que realmente funciona?
Javier Godinho – Eu acho que isso é só uma amostra, uma vitrine, uma exposição. Pode notar que os jornais que têm site, já aprenderam a cobrar para que tenhamos acesso às notícias do site. Por exemplo, se eu quiser saber uma notícia do O Globo pelo site, eu tenho que ser assinante, preciso de uma senha. Então é uma coisa bloqueada que não merece confiança. Outro exemplo é que se realizarmos pesquisa na Internet temos os risco de pegarmos coisas erradas. Muitas vezes eu pesquisei e fui confirmar se a informação batia com o livro original e não batia. É um negócio chutado. E quem fez aquilo ganhou o quê? Não merece credibilidade.

Em entrevista ao “O Único”, Rosenwal Ferreira critica atuação jornalística do POPULAR e rasga o verbo contra Lula e o PT


O jornalista e empresário Rosenwal Ferreira é goiano de Rio Verde. Nascido em família pobre, mudou-se para Goiânia na adolescência com o objetivo de concluir os estudos. Depois foi para São Paulo e graduou-se em jornalismo pela universidade Cásper Líbero. Ingressou no mercado de trabalho atuando no jornal Diário Popular, fazendo também alguns free-lancers para jornais como a Folha de S. Paulo, o Estadão e para a revista Veja.
Ainda morando em São Paulo, Rosenwal foi convidado a trabalhar nos Estados Unidos. O jornalista aproveitou a oportunidade para se especializar na área de marketing. Retornando ao Brasil, decidiu voltar a Goiás, onde atualmente trabalha em cadeia de rádio e televisão e é articulista do jornal “Diário da Manhã”. No rádio, Rosenwal apresenta o programa “Falando Sério”, na Interativa FM, e na televisão, comanda o “Opinião em Debate”, da TBC Cultura. O jornalista também é empresário e possui uma rede de escritórios de assessoria e marketing.
Nesta em entrevista ao O Único, Rosenwal relembrou momentos importantes de sua carreira, condenou a exigência do diploma de jornalista e rasgou o verbo contra o presidente Lula e o PT.

Qual foi sua motivação para escolher o jornalismo como profissão?
RF – Eu entendo que ser jornalista, do ponto de vista do que sou, é algo que você já nasce como tal. Eu sempre escrevi muito bem e gosto bastante de ler. Inclusive tenho uma biblioteca particular com mais de três mil livros dos quais 2.436 eu já li.

Você acredita que há necessidade de diploma para o jornalista?
RF – Eu acho que a faculdade burila o aluno, mas não faz o profissional. Se você não for jornalista na essência, a universidade fará muito pouco. Eu não acredito que a pessoa que não tenha talento possa se moldar na faculdade. Considero sim que um curso superior, talvez em outra área seja interessante, mas para a atividade jornalística, apenas um curso técnico já seria o bastante.

E quanto aos meios de comunicação, você acredita que atualmente eles perderam o caráter ideológico e só atendem aos interesses políticos e de mercado?
RF – Apesar de não ter me debruçado muito nos estudos sobre os primórdios da imprensa, eu posso dizer que os meios de comunicação que dependem de verbas públicas não conseguem fazer jornalismo sério. Nesse sentido, são raras as exceções de veículos que independem de apoio governamental. Pelo menos em Goiás, os órgãos de informação dominantes não são livres. A imprensa aqui é muito dependente do estado.


Então, o maior anunciante no estado de Goiás é o governo?
RF – Sem sombra de dúvidas. Existem dois tipos de dependência: a declarada e a fingida. O Diário da Manhã, por exemplo, manifesta de forma clara sua posição política a favor do governo. Em contrapartida, o jornal O Popular afirma independência, mas cerca de 70 % da verba do jornal é proveniente do Governo do Estado, então, não sai uma linha sequer que vai de encontro aos interesses governamentais.

E como você avalia o mercado de trabalho para o jornalista, já que atualmente centenas de pessoas são despejadas por ano no mercado?
RF – Realmente o mercado está restrito. Porém, eu acredito na capacidade individual. Eu posso perguntar a quantidade de livros que uma pessoa leu na faculdade e saberei facilmente se esse indivíduo vai ou não ser um bom profissional. Quem sabe escrever tem o mundo a seus pés. Eu comparo uma pessoa a um saco vazio e que é preenchido com bagagem cultural. Na medida em que esse saco se enche de conhecimento, a pessoa se valoriza profissionalmente.

Como você analisa a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo?
RF – Essa proposta envolve um partido de que eu não gosto. O PT para mim é uma farsa. Desse modo, eu entendo que tudo que passa pela classe política é nocivo á sociedade. Eu acredito que a alternativa é promover a educação para que a sociedade tenha condições de exigir e cobrar mudanças na mídia, que por sua vez manipula e massifica a liberdade intelectual.

Em sua opinião, como tem sido a atuação da imprensa diante da crise no governo Lula?
RF – Nesse caso do Lula, eu penso que a imprensa tem agido de forma equilibrada. O governo é um grande engodo, apenas aprimorou práticas de banditismo já existentes. O PT e o Lula são uma farsa homérica. A bandeira do partido acabou. As pessoas irão dar crises de risos se o PT se postar como diferente dos outros partidos, ou seja, mais éticos ou idealistas.

Para finalizar, qual o maior desafio do jornalista hoje em dia?
RF – O maior desafio é sobreviver sem abrir mão da verdade. Isso só acontecerá quando estabelecermos uma equação complicada entre verdade e sobrevida, isto é, sem precisar mentir para ganhar dinheiro. É preciso também resolver a interferência do governo no jornalismo. O Estado precisa deixar de tomar o papel da imprensa e oferecer-lhe liberdade total para a livre circulação de pensamentos e idéias.
O Único

Entrevista com Alziro Zarur – Editor executivo da TV Anhanguera

“A informação deve ser encarada como uma necessidade básica”

Aos 49 anos, Alziro Zarur comemora uma década como editor executivo da TV Anhanguera, departamento de telejornalismo da Organização Jaime Câmara. Em entrevista aos repórteres Aline Mil, Lyvia Lemos e Rodrigo Vilela da Agência de Notícias da Universidade Federal de Goiás, o jornalista conta como foi a sua trajetória no jornalismo, começando com apenas dois anos de faculdade no Diário da Manhã, passando pelo rádio até chegar na televisão.

Como o senhor começou a atuar no jornalismo?
Zarur: Eu morava na Cidade de Goiás e sempre gostei muito de escrever e ler jornal; o dinheirinho que sobrava eu comprava na banca pra ler. No meu terceiro ano de ginásio, eu disse: “Acho que vou trabalhar nesse jornal aqui, vou fazer jornalismo”. E realmente deu certo. Mudei-me pra Goiânia, passei no vestibular da UFG na primeira tentativa e, quando eu estava no segundo ano, em 1980, surgiu um jornal novo em Goiânia: o Diário da Manhã. Um jornal com uma proposta de circulação nacional, que trouxe grandes jornalistas de todo o país, inclusive os principais nomes daqui, que trabalhavam no “O Popular”. Eu pensei: “Vou dar um jeito de entrar nisso”. Cheguei sozinho lá e eles estavam montando a equipe. Conversei com o editor-chefe e ele me deu uma pauta pra eu fazer dentro de tantos minutos, com um texto de 20 linhas e um título com duas pernas mais ou menos iguais. Eu fiz, ele gostou e me chamou pra trabalhar. Eu não tinha experiência nenhuma e, logo que voltei das férias em Goiás, comecei a trabalhar.
O Diário da Manhã foi uma grande escola naquela época, porque era uma proposta grandiosa, um sonho maluco do Batista Custódio de um jornal em Goiás adquirir circulação nacional, disputar com jornais de todo o país. Lá eu trabalhei com grandes nomes da imprensa brasileira como Washington Novaes, Aloízo Bionde e Marco Antônio Coelho. E mais um detalhe: o jornal trazia jornalistas de revistas e jornais consolidados pra dar palestras pra gente. Às vezes chegava um sábado, uma sexta-feira, e a gente tinha uma palestra na redação.

De que maneira o senhor passou a trabalhar na televisão?
Zarur: Bom, o sonho do Batista durou muito pouco, porque o mercado goiano não sustenta um jornal da magnitude que ele idealizava. Então, logo o Diário da Manhã entrou em dificuldades financeiras, o pessoal foi saindo devagar e ele fechou. A direção abriu um jornal provisório, até enquanto eles não conseguiam na justiça voltar com o Diário, mas, naquela altura, os grandes nomes já haviam ido embora. Mesmo alguns goianos já tinham voltado para seus jornais e foi naquela reformulação da equipe que eu fui aproveitado como sub-editor do jornal, uma responsabilidade enorme pra quem tinha apenas dois anos de faculdade. Fiquei um tempo trabalhando sem receber, de vez em quando fazíamos um vale, até que eu e mais sete pessoas resolvemos abandonar o jornal. Fomos pra um boteco tomar uma cerveja e aliviar a cabeça, porque a gente trabalhava demais, eu mesmo saía do jornal duas, três horas da manhã todos os dias.
Meus colegas foram trabalhar em outras áreas, rádio principalmente, e eu fui convidado para fazer notícia numa rádio sem experiência nenhuma nesse tipo de veículo. Na época, a rádio universitária não funcionava direito, então não tinha contato direto com isso. Eu redigia pequenas notas pra preencher o noticiário da emissora, passei pela Rádio Jornal e Rádio Clube. Uma dessas rádios, que é a Executiva hoje, foi comprada pela Organização Jaime Câmara e eu fiquei novamente desempregado. Um dia, enquanto eu redigia um noticiário, o Jackson Abrão me ligou e disse: “Olha, nós estamos precisando de um produtor aqui”. (Risos) Aquele vozeirão, eu nem o conhecia. Vim trabalhar aqui como produtor executivo, isso já faz 20 anos. Aí eu passei de produtor executivo, pra coordenador de reportagem, depois chefe de reportagem e, em 1995, na reformulação que houve ampliando a redação com uma nova proposta de telejornalismo, eu fui aproveitado como editor executivo, que é uma espécie de chefe de redação. É onde estou até hoje, 10 anos já.

Qual foi a grande dificuldade que o senhor enfrentou quando começou a trabalhar e até mesmo quando decidiu ser jornalista?
Zarur: Dificuldade mesmo eu acho que não tive, acho que a gente tem é que saber se adaptar ao meio Eu gostava de informações na área de política, economia e futebol. Mas, quando fui fazer o teste no Diário da Manhã e me perguntaram em qual área eu queria fazer o teste, já veio na minha mente: “Bom, a área de política já tem grandes experientes, a economia também, então ‘tô fora’, vou para o esporte!” Tenho certeza que eu não seria aproveitado nas duas outras áreas, por causa dos nomes já definidos. Aí eu fiz a matéria no esporte e o editor adorou, mesmo sem nenhuma experiência. O que me ajudou foi a leitura diária do jornal impresso.
Agora, dificuldades maiores vivo até hoje, porque a grande notícia pega a gente sempre de surpresa, você não está com a estrutura esperando alguma coisa acontecer. Você tem que deslocar uma equipe de algum lugar pra atender aquilo. Mas, por outro lado, é o que mais me motiva. Sempre falo para os meus colegas que eu vou encerrar minha carreira como se eu estivesse começando; o dia que eu vou feliz pra casa é quando essa redação ferve, pega fogo. O dia que eu acho ruim é aquele que não tem nada de novo acontecendo, que você fica tentando segurar daqui e dali. Redação morna pra mim é ruim, eu gosto é de redação quente. A maior dificuldade pra se adaptar à profissão é saber brigar contra o tempo, é adaptar a prática do jornalismo ao seu estilo de vida, porque uma coisa é você acompanhar o noticiário quando você não tem compromisso de produzi-lo; outra é quando você está envolvido naquilo. Eu não me sinto bem quando saio à noite sem ver pelo menos um telejornal. Eu fico sempre pensando que alguma coisa boa pode estar acontecendo no país que eu não esteja sabendo. Quando isso acontece, no dia seguinte eu espero o noticiário com uma certa insegurança, pensando se saiu alguma coisa que eu não tenha visto, que a gente não repercutiu em nível local. O jornalista que eu considero ideal é aquele que não consegue se desligar do noticiário. Não é que a gente vai levar essa coisa pra família, mas é sempre pensar no que pode ter acontecido. Não é uma obsessão, é uma responsabilidade. É preciso ter o jornalismo no sangue, realmente gostar da informação.

Quando você chegou em Goiânia, você sentia que o mercado da imprensa era um campo aberto? Em que contexto a imprensa goiana se encontrava quando você começou a trabalhar?
Zarur: Eu vim pra Goiânia sem informação de mercado de trabalho, não tinha a mínima noção do que era, só fui saber mesmo quando entrei nele. Nem quando eu estava na faculdade eu tinha essa noção disso, a não ser quando o Paulo Béringues, que trabalhava aqui na Jaime Câmara, foi dar uma palestra pra gente sobre como estava o mercado. Mas, primeiro, vamos falar de estrutura. Quando eu comecei no Diário da Manhã, a estrutura era muito boa, a gente tinha carro por conta, fotógrafo todos os dias, uma redação grande. O Diário da Manhã inaugurou a redação contínua, porque antes era tudo compartimentado, cada editoria tinha sua sala. O DM colocou todo mundo junto, era uma festa. (Risos) Quando eu fui trabalhar no rádio, chegava final de semana eu estava trabalhando, por exemplo, sozinho ali num prédio que não tinha mais ninguém, nem um guarda. Só me cabia fazer um texto e vinha um motorista lá do estúdio buscar a notícia; que por sinal eu achava muito ruim fazer. Transformar um fato importante em três linhas era um trabalho muito ruim pra mim. Quando eu vim pra TV, a estrutura também era ruim, porque embora o espaço noticioso aqui fosse menor, havia na TV Anhanguera apenas um produtor de notícias de manhã e um à tarde pautando seis repórteres. É muito pouco, mas até melhor do que por onde eu havia passado. Hoje nós podemos considerar que temos uma boa estrutura. Naquela época, fazer uma matéria ao vivo era um acontecimento. Você tinha que mobilizar o mundo e só entrava ao vivo aquele assunto que tinha que entrar. A gente mobilizava a estrutura três, quatro horas antes do fato e ficava torcendo aqui pra dar tudo certo. O dia que a gente conseguia fazer um ao vivo, era motivo de comemoração, era o fato do dia em Goiânia o “vivo” da TV Anhanguera. E hoje é rotina, é normal.
Acho que hoje o mercado de trabalho está muito mais disputado, muito mais saturado, embora existam muito mais vagas. Os profissionais que estão procurando o mercado de trabalho na área da imprensa estão em número muito maior, porque as faculdades aumentaram. Acho que o bom profissional vai ter sempre um lugar pra trabalhar.

Todas as matérias que vocês fazem aqui na TV Anhanguera têm que passar pela avaliação da rede nacional?
Zarur: Não, a gente oferece pra Globo só aquilo que nós achamos que vale como notícia de rede. Hoje nós temos uma estrutura boa, com um núcleo que produz especialmente pra rede. Temos uma editora, que coordena esse núcleo, repórteres especificados, um produtor que trabalha pautando pra rede e um editor de vt exclusivo pra isso.

Quando o senhor falava para os seus amigos que trabalhava na rádio, no Diário da Manhã, como era a aceitação do seu trabalho?
Zarur: Sempre há um retorno do trabalho. Mesmo quando eu estava no Diário da Manhã, que ainda tinha uma circulação pequena. Sempre encontrava uma pessoa que dizia que tinha lido a minha matéria. Agora, há muito pouco retorno crítico. Normalmente, o público leitor, o telespectador ou até mesmo as pesquisas que a gente faz, não são muito críticos. É uma dificuldade que a gente tem. Quando queremos analisar determinado programa, determinado telejornal, nós encomendamos uma pesquisa qualitativa, voltada realmente para uma avaliação crítica. A pesquisa do dia a dia, não funciona, porque se você for fazer, as pessoas são muito generosas. O jornalismo é uma porta aberta, é o profissional junto a comunidade e as pessoas vêem isso com bons olhos. É para onde elas apelam quando falta algo melhor.

O senhor acha então que o Jornalismo é uma segunda opção?
Zarur: É. O jornalismo é tido como quarto poder, mas eu acho que depende muito do momento. Em crise política, o jornalismo assume, como aconteceu no Impeachment do Fernando Collor, o lugar de muitas instituições democráticas porque elas não funcionavam como deveriam e ele acabava por noticiar e opinar por elas.

O senhor acha que agora as pessoas lêem mais, assistem mais os telejornais do que quando o senhor começou?
Zarur: Existem pesquisas sobre isso. Há uns 6 meses, tive um estudo mais aprofundado nesse assunto. Proporcionalmente, o público leitor de jornal impresso tem diminuído aqui e no mundo, o público de televisão tem crescido e continua crescendo. Os estudos feitos na Universidade de Navarra, na Espanha, prevêem o crescimento de 2% do público de televisão aberta pelo menos nos próximos 10 anos. O público de rádio tem diminuído, a não ser no esporte e em algumas coisas especializadas. Os leitores de revista também têm diminuído, mas menos que os de jornal. Mas, por outro lado, surgiu essa nova mídia, a Internet, que tem conquistado o público e tem um potencial de crescimento muito grande. Cada vez mais, as pessoas têm menos tempo e procuram meios mais práticos de acessar a notícia. Muitos fazem uma previsão negativa para o jornal impresso no futuro, não se sabe até onde ele vai chegar e não há resposta definida sobre isso, mas a tendência é cair. Isso é um estudo feito, eu mesmo não tenho um pensamento próprio sobre isso, a única coisa que eu fiz foi acessar essas pesquisas e assistir um curso em São Paulo.

O senhor acha que as pessoas lêem pouco, têm pouco acesso à informação?
Zarur: Acho que o público brasileiro lê muito pouco. O europeu, o argentino, lê bem mais do que nós, lá os jornais vendem muito mais, embora, como aqui, tenha-se registrado queda nas vendas. Se você imaginar que a população cresce e o jornal cai, então a proporção é maior ainda. Acho que a informação deveria ser encarada como alimentação, necessidade básica para as pessoas. É muito difícil exercer a cidadania sem informação, não tem jeito.
Aline Mil
Lyvia Lemos
Rodrigo Vilela